Mães inspirando talentos

O filme narra a história real do médico Benjamin Carson, que se tornou diretor do departamento de Neurocirurgia Pediátrica do hospital Johns Hopkins, aos 33 anos de idade e um dos mais respeitados neurocirurgiões do mundo. Baseado no livro “Ben Carson – o menino pobre que se tornou neurocirurgião de fama mundial”, de autoria de Cecil B. Murphey, quase todo o filme é estrelado por Cuba Gooding Jr. no papel de Ben já adulto, muito marcante em diversas cenas. A direção é de Thomas Carter e produção pela Sony Pictures.

Cenas de preconceito racial seja manifestado pela professora racista como por alunos da escola, poderiam ter deixado marcas profundas. No entanto, ao encontrar um professor sensível que reconheceu as potencialidades de Ben o aceitando em suas pesquisas, contribuiu para alavancar o seu impulso para o estudo e para ousar na busca de resposta para o desafio da medicina.

Destaque central para a mãe de Ben, mesmo sem escolarização, tem uma grande virtude própria das mães: crença nos filhos. Além de consciência e indignação pelo racismo que enfrentam, perserverança e resistência constante para que os filhos vencessem as condições de pobreza e de discriminação.

O filme consegue expressar toda a emoção pelo quanto a mãe influenciou e marcou seu caráter. Os pais de Benjamin Carson se separaram quando ele e seu irmão ainda tinham oito e dez anos. Ela, assumindo todas as responsabilidades do cuidado dos dois filhos, refletindo uma realidade nas sociedades capitalistas e patriarcais. Segundo o IBGE (2021), mais de 34 milhões de mulheres são chefes de família no Brasil, o que representa aumento de mais de 100% em relação a 2001. Segundo dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea, 2017), as mulheres negras eram 55,6 milhões, chefiavam 41,1% das famílias e recebiam, em média, 58,2% da renda das mulheres brancas. Diferenças que são materializadas ao se constatar que as mulheres negras recebem menos da metade do salário dos homens brancos. Nesse estudo considerou-se, entre as mulheres negras, as mulheres pretas e pardas (de diversas miscigenações, que se autodeclararam). Esse mesmo estudo aponta que a renda familiar média das pessoas negras é menos do que a metade da renda de pessoas brancas. Enquanto os brancos tinham um índice de R$ 1.097,00 por pessoa, a renda de negros era estimada em R$ 508,90¹. Nota-se que esse estudo é anterior à pandemia da Covid-19, que deve ter aprofundado as desigualdades de gênero e raça.

No filme, a mãe de Ben, mulher negra, trabalha como empregada doméstica e, ao perceber o baixo rendimento e o desestímulo dos filhos que estudam em uma escola de brancos, discriminatória, quando os filhos só tinham interesse em ver televisão, os desafia para que leiam livros e produzam resumos dos livros, estimulando-os a acreditar em si, a expandir sua imaginação e a ter o poder de criar, o que fez profunda diferença na vida dos meninos.

Ao ser aceito no hospital Johns Hopkins, localizado em Baltimore, Maryland, nos Estados Unidos (uma das mais importantes escolas médicas americanas), o médico se tornou célebre ao realizar com sucesso uma cirurgia inédita na história da medicina: uma separação crânio-encefálica occipital de gêmeos siameses alemães, sem que nenhum deles morresse, um procedimento longo, com quase 24 horas de duração. Várias outras intervenções cirúrgicas o notabilizam como um dos melhores cirurgiões do mundo. Em cada passo de dificuldade, a lembrança e a força de sua mãe reaparecem como a lhe dar novo ânimo e novas perspectivas. A frase de estímulo repetida algumas vezes com seu dedo indicador na cabeça: “Tudo o que você precisa para conquistar no mundo está aqui dentro! Você só precisa enxergar além do que vê!” Indicativas, pela fé de sua mãe, de que o filho tudo poderia desde que acreditasse e lutasse para que a conquista comparecesse nos momentos mais difíceis e complexos de sua vida.

Neste dia das mães, em uma conjuntura político-social de extrema gravidade, de ataques frontais à Humanidade, de incertezas quanto ao futuro, esse filme enfatiza a força da figura da mãe que não desiste e que sempre encontra uma palavra de esperança. Anima a acreditar que o presente de luta poderá transformar o futuro e reinventar novas possibilidades, em particular para a juventude pobre, negra e periférica, em cujo meio também despontam muitas mães de resistência.

Ficha do filme

• Baseado na vida real do Dr. Benjamin Solomon Carson
• Lançamento: 2009
• Diretor: Thomas Carter
• Ator: Cuba Gooding Jr. (Ben Carson)
• Atriz: Kinberly Elise (Sonya Carson)
• Gênero: Drama, Biografia.