Mar salgado
A notícia da queda do vôo 447 da Air France que decolou do Rio de Janeiro em direção a Paris, caindo sobre o Atlântico entre o Brasil e a África, abalou e comoveu a opinião pública mundial. Mas a verdade é que outras tragédias de maior quantidade de vítim
Publicado 16/06/2009 21:33
No entanto, não há algo que provoque maior consternamento, em qualquer lugar do planeta, do que um desastre aéreo. A grande pergunta que muitos fazem é porque exatamente os sinistros envolvendo os aviões?
Muitos procuraram a resposta a essa interrogação comentando o episódio do vôo 447. Entre as várias teorias, alguém disse que o ser humano admira, consciente ou inconscientemente, a façanha extraordinária de construir um objeto que pesa toneladas, este alçar vôo como se fosse um grande pássaro da natureza e, em velocidade espetacular, encurtar em muitas horas grandes distâncias.
E quando ele aproxima continentes separados por um infindável oceano, aí a consternação de uma queda, como a do 447, é proporcional ao feito de que ele é capaz.
Alguns disseram que essa é a luta permanente do ser humano para superar as suas limitações através das invenções e descobertas em todas as áreas das ciências, construindo engenhos tecnológicos, desafiando incansavelmente a natureza, através dos tempos, por toda a sua existência na Terra, seja ela quanto for.
Dificilmente existirá outra cena de um filme que expresse de maneira tão inspiradora essa epopéia como o início de “2001: Uma Odisséia no Espaço” de Stanley Kubrick, quando um homem das cavernas descobre que um osso de um animal pode ser uma ferramenta de trabalho.
E quando o sacode para o alto em ritmo de câmera lenta, ele toma a forma de uma imensa nave espacial viajando pelas galáxias. Seria a saga humana, na busca da perfeição, enfrentado os elementos da natureza, que muitas vezes confronta-o e o derrota. Mas ele nunca desiste.
Esse duelo interminável produziu belas páginas da literatura e poesia como aquelas nas quais Fernando Pessoa narra as aventuras das caravelas portuguesas, com os incontáveis naufrágios, escrevendo: “Oh mar salgado, quanto do teu sal são lágrimas de Portugal … para que fosses nosso, oh mar”.
É o mesmo oceano, o mesmo Atlântico em que o 447 encontrou o imprevisto destino. Mas o homem, esse animal imperfeito e especial, continuará a sonhar e voar incansavelmente.