Melhor analisar depois

Em Pernambuco há um militante comunista oriundo das Alagoas ao qual companheiros e amigos atribuem dotes excepcionais na análise dos fenômenos da natureza e da sociedade humana, especialmente no que se refere a eleições. “Ele entende de pipoca a nave espa

Logo, de campanha e de voto o homem sabe tudo. Ele, por seu turno, não se faz de rogado e, de vez em quando, contribui para a lenda que se consolida em torno de si disparando sentenças tão simples como sábias. Uma das mais conhecidas é: “Melhor mesmo é analisar depois”.


 


De fato, nada mais cômodo do que analisar causas e conseqüências após os acontecimentos. É o que fazem, por exemplo, comentaristas esportivos. E analistas políticos.


 


Querem um exemplo? O papel sobre o peso que terão a TV e o rádio na alteração de tendências do eleitorado do dia 15 próximo (quando se inicia o chamado horário gratuito) até 1º de outubro. Supõe-se que, à semelhança de campanhas recentes, o chamado palanque eletrônico venha a ter uma influência destacada, em alguns casos decisiva. Mas, é óbvio, depende de muitas variáveis relacionadas com as candidaturas em conflito: o desenrolar da campanha de cada um, o que tenha a dizer os candidatos e a receptividade do eleitorado ao que disserem e muitas coisinhas mais.


 


Na disputa presidencial, por exemplo, ensaia-se o confronto entre a lama e o sangue, característica presumível da campanha da direita e associados, versus realizações de governo, destaque no programa de Lula. Qual das duas temáticas será melhor absorvida pelo telespectador? Na pergunta estão contidas hipóteses díspares, como a consolidação da candidatura de Lula ou o crescimento de Alckmin.


 


Nos estados, então, há uma gama de situações, igualmente submetidas a um grande leque de variáveis.


 


Agora, para os que estão por baixo nas pesquisas (o autor dessas linhas está nesse time, como candidato ao Senado), o dia 15 parece vir como o início da solução de todas as dificuldades. E não é. Pois impactos da TV e do rádio à parte, que poderão ser significativos para algumas candidaturas, há que considerar a correlação de forças real na sociedade – para o que concorre em muito o nível de consciência dos eleitores.


 


Em Pernambuco, na batalha do Senado, contra o ex-governador Jarbas Vasconcelos (ainda em larga dianteira nas pesquisas) há o fato de que ele se opõe a Lula justo num estado em que beira 70% o apoio à reeleição do presidente. Terão a TV e o rádio, mais o que for feito nas ruas, força suficiente para separar o joio do trigo e deslocar para o lado de cá parte expressiva dos que mesclam, contraditoriamente, intenções de voto em Lula e no ex-governador?


 


Bem. Nesse caso, dirá o alagoano militante que entende de pipoca a nave espacial: o melhor será analisar depois. Por agora, importa lutar – e muito.

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