Mídia e Credibilidade
Rezam os compêndios do bom jornalismo, valendo para todas as mídias, que a informação deve ser checada e rechecada antes de atingir os olhos ou ouvidos do receptor. Mas essas regras básicas parecem ter ido para o beleléu, mesmo em matérias corriqueiras, das seções de polícia ou de notícias do trânsito de automóveis. E se agravam nos noticiários mais amplos, nacionais e internacionais.
Publicado 04/12/2012 19:38
Pode-se observar do que estamos falando a qualquer momento. Em uma notícia sobre um acidente de ônibus, por exemplo, uma emissora de rádio ou TV registra 19 mortos. Para outra, ali ao lado no dial, quase no mesmo horário, foram 21 os mortos. Em qual delas acreditar?
Num caso desses, é de se crer que as pessoas que fizeram as reportagens pegaram a primeira informação que lhes chegou e as mandou para frente. Não interessa quem informou. Pode ter sido um bombeiro, um policial ou mesmo um passageiro ainda meio atordoado. Checar com outras fontes parece ser dispensável.
Isso, falando de um evento vulgar, do pondo de vista jornalístico. Afinal, todas as informações estão ali presentes. Um ônibus caiu numa ribanceira, a lista de passageiros está no compartimento do motorista e os mortos estão nas cadeiras ou no chão, estendidos. Basta contar.
O mais grave das reportagens do dia a dia, como essa, está no descaso pela acuidade, ou veracidade, da informação que é repassada ao público. Quando escalamos outros patamares, então, vemos que o descaso do erro numérico vira uma postura clara de tentativa de engambelar leitor, ouvinte, telespectador ou internauta.
Um exemplo próximo. Nos recentes conflitos entre Israel e Palestina, há duas semanas, grande destaque foi dado pela grande mídia a supostos ataques palestinos a territórios ocupados por Israel. Morreram cinco pessoas. Já os massivos bombardeios israelenses sobre territórios palestinos mataram perto de 150 cidadãos. Mas foram apenas revides!
Em outros casos dá-se relevância a detalhes que, a rigor, não viriam ao caso. É muito pouco usual a mídia fazer referência a quem indicou um funcionário público que tenha realizado alguma proeza ou praticado falcatruas. Afinal, todo funcionário de postos temporários do serviço público está lá porque alguém lembrou do seu currículo.
No entanto, na operação da Polícia Federal que envolveu Rosemary Noronha, funcionária do governo federal no escritório da Presidência da República em São Paulo, foi comum esse fato. Em muitos órgãos da mídia, toda vez que se fez referência a essa funcionária, veio colada a frase “indicada pelo ex-presidente Lula”.
Fica claro, pois, que essas distorções da mídia ocorrem por duas razões: ou é posição ideológica ou é falha mesmo. E, já que é meio difícil mudar as escolhas dos donos da mídia nos planos das notícias políticas nos planos nacional e internacional, que pelo menos houvesse mais rigor com o noticiário do cotidiano local.
Vale sempre conferir o número de mortos e feridos, em ambos os casos.