Mostrem a cara!

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Sonhos. Depois que esboçam um formato qualquer, se esvaem numa outra dimensão e ficam lá, pairando no invisível, no indizível, inopináveis. Eles fingem que morrem e quando menos se espera pegam carona numa música que toca no rádio, na hora do almoço num trânsito febril. Ficam cutucando, puxando o cabelo feito moleque, rondando à espreita de serem revelados, ou capturados e murmuram aos nossos ouvidos coisas que podem confundir.

Dão sinais nas nuvens brancas e redondas, nas que caem em chuvas e na chuva, que de novo se evapora para cair novamente n´outra estação. Podem tremelicar diante dos olhos, feito os vapores do deserto, mas nos enganam, são meras miragens. Florescem com os ipês, todo ano repetindo o ritual da semente à flor. Ficam lá, eu sei, papeando com outros sonhos, com os sonhos dos outros. Devem ser tantos! Se soubessem a força que têm, fariam revolução.

Se instalam quando dormimos mesmo cansados, ou exautos. Testam nossa fidelidade e nossa memória, mudam de cara, de cor e de lugar. Transformam-se, encolhem-se, mas ficam lá, não morrem nem mesmo quando incríveis, nem mesmo quando tristes. Ouvimos seu risinho, vemos seus dentes.

Sonhos, venham! Venham aos montes, feito enxames de abelhas e tragam mel, feito ondas salgadas e tragam estrelas! Mostrem a cara, me façam feliz!

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