Muita tensão no ar
Em meio a uma crise multifacetada, elevam-se as tensões, decorridas principalmente das falas e ações do Presidente da República. É importante superar a dispersão e manter o foco na construção de uma ampla aliança contra Bolsonaro
Publicado 08/07/2021 12:48 | Editado 08/07/2021 12:49

Numa conjuntura marcada pela instabilidade em todas as áreas, produto de uma crise multifacetada que convive com arroubos autoritários e evidente incompetência do presidente da República, há momentos de alta tensão.
Como agora.
Somam-se palavras agressivas e desrespeitosas contra integrantes do STF, proferidas por Bolsonaro numa emissora de rádio de Porto Alegre; depoimentos crescentemente encrencados de autoridades e altos funcionários do governo perante a CPI da Covid; explícita inquietação na cúpula das Forças Armadas, cujos comandantes assinaram em conjunto com o ministro da Defesa nota repelindo comentário (procedente) do presidente da CPI a respeito do envolvimento de militares com a corrupção; e a notável discrepância entre repetidas promessas do ex-super ministro da Economia Paulo Guedes e a permanência persistente das atividades econômicas na incerteza e à meia boca.
Quem paga o pato é a maioria da população, duramente atingida e ameaçada pela pandemia, sofrendo na própria carne as consequências da inflação agora tendente a novo impulso com o anunciado aumento dos preços dos combustíveis e a crise energética.
Em certos momentos assim complexos e tensos, ouvi mais de uma vez do ex-governador Miguel Arraes preocupação com a ausência de um conjunto de lideranças, de diferentes matizes, capaz de construir uma solução para a crise.
No Brasil de hoje é assim.
Tanto nas hostes governistas há uma evidente carência de quadros capazes de conter as inconsequências do presidente, como no campo oposicionista (embora haja progressos nesse sentido), a dispersão ainda é a tônica.
Daí se valorizar o encontro ocorrido entre Luciana Santos e Walter Sorrentino, pelo PCdoB, e o ex-presidente Lula e Gleise Hofmann, por parte do PT, anteontem, que além de consolidar um ponto de vista comum em favor das federações partidárias — instrumento válido para conter o anti pluralismo partidário — reafirmou um ponto de vista comum em favor de uma ampla união de forças para derrotar Bolsonaro.
Demais, um fator que tende a ganhar paulatinamente mais força, a pressão popular nas ruas.
A presença de agentes provocadores ligados à Abin nas últimas manifestações confirma a inquietação e a índole golpista de Bolsonaro e sua trupe, tanto mais quanto crescem o descontentamento da população em relação ao governo e os números recordes de rejeição ao próprio Presidente da República.
Os dias que correm podem ser decisivos no sentido de se forjarem os traços essenciais da situação política em geral, e da correlação de forças em particular, no período que antecede o pleito de 2022.
E, quem sabe, na esteira das conclusões da CPI, até a hipótese do impeachment.
Nessas circunstâncias, cabem firmeza na resistência e uma boa dose de cautela….
Veja: Na luta política, todo apoio é bem-vindo https://youtu.be/v8gcgIN23b8