Mulheres iraquianas resistem de arma em punho

Circulou pela internet recentemente, mais precisamente a partir do dia 11 de fevereiro, uma carta de um iraquiano chamado Abdul Ilah Albayaty. Ele mostrava-se indignado com a possibilidade de mais uma imensa injustiça ser cometida contra três inocentes mu

Como dizia Marx, infeliz aquela sociedade que perdeu a capacidade de se indignar. O texto que me chegou às mãos estava em português. Mas continha um endereço eletrônico de Abdul. Imediatamente, comuniquei-me com ele, pedindo a sua expressa autorização para que eu publicasse a sua carta em minha coluna semanal. Parece que as coisas no Iraque estão recrudescendo. No momento que escrevo este texto, os jornais noticiam pelo menos mais 200 mortos em vários pontos do país. Vai fracassando cada vez mais a ocupação americana de solo árabe e fracassa com ela o governo fantoche que lá foi instalado.


 


O desabafo de Abdul trata de algo que mais ocorre hoje no Iraque: um simulacro de “julgamento”. Sem direito a defesa, sem prova alguma, instaura-se “julgamentos’ sumários, com sentenças previamente escritas e no máximo alguns dias depois – quando não no mesmo dia do “julgamento” – as pessoas são executadas, num misto de vingança sectária e cumprimento de determinações do Pentágono. Neste caso específico que nos trouxe à luz Abdul, trata-se da execução de três jovens iraquianas, membros da insurgência. Eram elas: Wassan Talib, de 31 anos, Zainab Fadhil, de 25 anos e Liqa Omar Mohammad, de 26 anos. Jovens todas elas. “Julgadas” e condenadas sem direito à defesa, sem julgamento justo. Mas, o que é pior: seu único “crime” foi defender a sua pátria da invasão de americanos, que ocupam o solo sagrado do Iraque, da antiga Babilônia. Ironia do destino, as jovens foram mortas no mesmo mês em que seu dia internacional é comemorado em todo o mundo.


 


Com a autorização do filho de Abdul, Hanna, com quem conversei por correio eletrônico em inglês, tomo a liberdade de fazer de suas palavras a minha coluna desta semana, a quem consagro a todas as mulheres iraquianas que, de armas em punho, também engrossam a resistência à invasão, em seu dia Internacional, neste 8 de março. No diálogo com Hanna é que fiquei sabendo que seu pai tem 67 anos e vive exilado em Paris, mas é ativista da resistência árabe. A seguir, o desabafo de Abdul:



Declaração de Abdul Ilah Albayaty



Wassan Talib, 31 anos de idade, Zainab Fadhil, de 25 anos de idade e Liqa Omar Mohammad, de 26 anos de idade – acusadas de pertencerem e participarem da resistência iraquiana. Foram sumariamente julgadas, num simulacro de tribunal, na ausência de advogados. Serão executadas [e foram de fato] no dia 3 de março em Bagdá.



Advogados estão convencidos de que sua presença é uma garantia da justiça.



Sindicatos e trabalhadores que comemoram a festa internacional de 1º de maio em memória de trabalhadores norte-americanos julgados por falsas acusações.



Religiosos de todas as religiões que guardam o sofrimento de Cristo crucificado após um falso julgamento.



Marxistas revoltados contra falsos tribunais fabricados pelas grandes potências, como o que condenou rosa Luxemburgo.



Militantes conscientes de que isto pode acontecer com qualquer pessoa, qualquer que seja a causa por ela defendida.



Defensores dos direitos humanos em particular o direito a um julgamento justo.



Mulheres que dão a vida e que se revoltam diante das atrocidades de tais execuções.



Árabes, orgulhosos de sua origem e em solidariedade com os sacrifícios do povo iraquiano contra a barbárie da ocupação e seu governo fantoche.



Cidadãos civilizados, seres humanos que se recusam a aceitar os assim chamados assassinatos “legais” perpetrados pelos estados.



Todos … vamos nos unir, levantar nossas vozes para bradar a nossa indignação, refutar os horrores e a regressão da nossa civilização e evitar o assassinato de Wassan, Zainab e Liqa.



Abdul Ilah Albayaty



 
O desabafo de Abdul, ao qual me somo e me solidarizo, não foi suficiente para barrar a execução sumária dessas três jovens mulheres e lutadoras de seu povo, na busca de dias melhores para seu país e para o povo árabe em geral, que vive tempos de extrema humilhação pelos americanos. Mas seu exemplo de tenacidade, de luta, de perseverança e esperança, haverá de frutificar e seus nomes ficarão no coração da juventude iraquiana que resiste ao maior império da terra, mas que, em breve, cairá.


 

As opiniões expostas neste artigo não refletem necessariamente a opinião do Portal Vermelho
Autor