Neo-liberais ou burgueses

Para o professor de economia Gustavo Franco, a esquerda hoje refere os “neo-liberais” como antes designava a “burguesia” (entrevista à TV Globo 24/10/2010). Afiram o doutor em economia, com ar de desdém, que esta opinião hoje não significa nada porque os economistas modernos “desenvolvem teorias muito semelhantes” e o socialismo não existe nem na China. Com o seu ar de profundo conhecedor de economia política, sorridente e superior, discorreu pela uniformidade de pensamento de economistas de direita e esquerda, ou melhor, sem que a ideologia os distinga. É uma opinião, a dele.

Bem diferente da que mostra haver uma convergência à esquerda, na aceitação do pensamento marxista que sempre analisou objetivamente o sistema capitalista apontando o socialismo como a forma de superação das falhas insuperáveis causadas pelo domínio de uma elite privilegiada sobre a sociedade. A burguesia, que nunca deixou de existir, defendeu o neoliberalismo no Brasil durante vários Governos que terminaram com o de FHC (do qual o professor GF fez parte dirigindo o Banco Central), e aprendeu, com a equipe do Presidente Lula, que o neoliberalismo enterrava o país tornando-o dependente da elite global e adotou a defesa da nação com a sua burguesia empresarial em um caminho de liberdade nacional. A prova é que em véspera de eleições, depois de cumpridos dois mandatos, Lula conta com o apoio surpreendente de quase 80% dos eleitores e a velha oposição não conseguiu decolar a uma semana da eleição. Onde foi parar a burguesia? E o neoliberalismo? Se hoje todos os economistas adotam a mesma teoria, não é, certamente, a neoliberal nem mesmo a burguesa de antes.

Tudo isto foi superado pelas crises do sistema capitalista que desvendaram os seus podres essenciais: a escravidão de trabalhadores, a informalidade para o trabalhador poder sobreviver, o Estado Mínimo que deixa o povo desamparado e os ricos impunes, a exploração desenfreada dos que vendem a força de trabalho, a prática dos assédios morais e outros para quebrar a diginidade dos cidadãos socialmente desprotegidos, o deboche dos poderosos que corrompem a sociedade, a miséria que mantém uma parte da população como reserva de mão de obra barata, a venda do patrimônio nacional para aumentar o orçamento disponível para maus gestores, a dissolução dos princípios éticos que formam a cultura nacional, a impunidade de criminosos que criam as bases para as redes que minam a segurança pública, a expansão imperialista que destroi a paz no mundo. O reconhecimento de que todos esses males que horrorizam a sociedade mundial têm a sua origem na ausência de democracia determinada pelos privilégios de uma elite poderosa é que permite a todos os estudiosos da economia política uma certa unidade em torno de princípios humanistas, de respeito pelo ser humano qualquer que seja a sua classe social, a sua raça, a sua religião e a sua ideologia – que é um dos pilares do socialismo, não do capitalismo.

Uma das propostas de Dilma Roussef, para dar continuidade aos programas iniciados pelo Governo Lula, é propiciar aos professores condições de reciclagem dos seus conhecimentos para que a educação no Brasil seja a melhor, a mais aberta, a mais conveniente a uma população que desenvolve a sua consciência de cidadania e passa a contar com as instituições democráticas do Estado para a defesa dos Direitos Humanos. Que os professores falem claro, porque o povo brasileiro já sabe que pode e deve pensar com a própria cabeça e o conhecimento da realidade.

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