Nossas derrotas desde maio de 68

As percepções da juventude francesa sobre as mobilizações estudantis de 1968 em “Nossas Derrotas” e a esperança da migração em “Mediterranea”

Filme "Nossas Derrotas" I Foto: Reprodução

Esse filme “Nos Défaites” (Nossas Derrotas), que entrou em cartaz no Mubi, foi realizado no final de 2018 nos meses de outubro e novembro e uma última parte em dezembro. Isso em lembrança do maio de 68, que naquele ano fez 50 anos. Pelo estilo que o filme tem, se parece com “Las facultades”, o argentino que entrou em cartaz antes também no Mubi. E os dois filmes se parecem com o estilo criado pelo cineasta brasileiro Eduardo Coutinho.

“Nos défaites” foi dirigido pelo cineasta francês Jean-Gabriel Périot e ele é quem conduz as perguntas que são feitas a um grupo de uns quinze jovens franceses, meninos e meninas numa média de 15 anos de idade, participantes do 1º ano numa espécie de Colegial. Sem dúvida, é um grupo de jovens especiais e talvez por isso não possamos contar como sendo uma amostragem do que os jovens franceses dessa idade pensam.

Mas certamente é um excelente documento desse momento social político não só francês, mas até mundial. O roteiro foi extraído de filmes feitos com jovens em maio de 68 sobre questões sociais e políticas, e foram repetidas em 2018 as perguntas. Uma questão é se hoje poderia haver uma Revolução como a de 68, e todos os pesquisados praticamente responderam que não. Não para a Revolução. Uns dois ficaram em dúvida, mas terminaram adotando o “não”. E também, como no caso do filme argentino sobre as Faculdades, houve aqui um excelente trabalho de edição e cinematografia. Assim, a narrativa consegue manter um bom grau de atração para o espectador.

É um tipo de cinema que deveria ser adotado de certa forma pelas próprias Faculdades, pelas Universidades, pois são material direto da realidade. Não é cinema simplesmente para divertir. Claro que são produzidos com ajuda governamental ou com organizações culturais, pois não se sustentariam se dependessem do público pagante.

Olinda, 15. 09. 21

Filme de Burkina Faso

Filme “Mediterranea” I Foto:: Reprodução

O bom dessa plataforma Mubi é que os filmes, além de serem escolhidos entre os premiados em Festivais internacionais, são variados na sua procedência. E assim ontem vi “Mediterranea” – que tem produção da Itália, foi dirigido por cineasta ítalo-americano Jonas Carpignano -, mas a origem dos participantes como intérpretes é Burkina Faso. O tema central é a imigração, no caso da África para os países mais desenvolvidos do Ocidente. O cineasta Jonas é filho de italiano, mas nasceu em Nova York e lá mora. Não é um iniciante, pois já tem alguns longas em sua filmografia.

“Mediterranea” se passa na Itália, onde os dois personagens principais chegam após a aventura da travessia do mar. As cenas básicas são das tentativas deles de não só permanecerem nos locais, mas conseguirem emprego legal, e mandarem o dinheiro que ganham para a família em Burkina Faso. Esse filme tem uma excelente cinematografia, um ótimo jogo de cena plástica e movimentação de câmera, embora tenha criado uma atmosfera escura o tempo todo, o que dificulta a visão. Certamente o diretor quis que o sombreado encorpasse a cor dos intérpretes, e quase que não vemos suas presenças. As pessoas fumam, então vemos o cigarro e sua brasa com mais destaque. Quanto à estória é tão simples, que nunca passa dessa trama de emprego ou não. Sair de um espaço para outro. Realmente, não aprofunda.

Mas o trabalho tanto fotográfico quanto de som é excelente. E a beleza plástica cria sempre um notável preto e branco. O filme usa o colorido, mas as cores são todas em torno do negro mais ou menos escuro. Os intérpretes falam em francês, mas um francês muito tocado pelos sons africanos de Burkina Faso. O ator principal se chama Koudous Seihun.

Esse filme “Mediterranea” foi feito em 2015, e o que se nota nessas produções mais atuais do século atual é uma fixação nas questões pessoais e quase nunca se fala sobre o que poderá acontecer se mudarmos a sociedade. E então? Tudo indica que os cineastas não querem se envolver. “Os dramas fundamentais são pessoais”, parecem pensar. E assim fazem cinema.

Olinda, 24.09. 21

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