Notícias de Illinois

O jornalista Alexandre Garcia, em 15/02, foi solicitado pelo jornal matutino da rede Globo de TV a comentar notícia do dia anterior sobre o massacre de Illinois, onde um estudante disparou sua arma matando um professor e cinco colegas, mandando o

Um rico gancho para analisar um pouco as mazelas da cultura armamentista dos EUA, o país líder da venda legal e ilegal de armas e da criação e exportação de guerras, para vender mais armas e para se apoderar de reservas alheias de petróleo. O país de Rambo, de Duro de Matar, de Táxi Driver, de tantos Exterminator e do “waterboarding” ou “submarino”, eficiente prática de tortura que o governo estadunidense acaba de assumir como uma prática oficial de investigação. Prática, aliás, entre outras, muito difundidas entre nós pelos gorilas treinados pela CIA, que empestaram as famosas masmorras sul-americanas dos anos milicos de 60 e 70. Enfim, sobrava panos para as mangas de uma boa tese jornalística.


                


Qual o que? À Globo, como aos outros jornalões, interessa apenas o “tema do dia”, pauta permanente, desde meados do primeiro mandato de Lula, que objetiva atribuir todas as mazelas das áreas de saúde, transporte, segurança, educação, acumuladas por décadas, apenas ao governo Lula, independentemente das responsabilidades de governos estaduais e municipais. E a tentar jogar no colo do governo crises e “caos” de setores da vida brasileira. Não raro a criar crises inexistentes. Fiel militante dessa horda, o raivoso Garcia, a espuma de saliva a escorrer pelo canto da boca, passou a discorrer sobre a violência brasileira. Não por simples patriotismo, a fazer desfilar funestas estatísticas sobre nossa violência.


 


Não que não seja sempre oportuna uma boa discussão sobre a nossa violência. O que se lamenta é o crônico desinteresse da nossa mídia em discutir assuntos internacionais que possam macular a imagem dos EUA. Ela prefere satanizar os governos infiéis, não subordinados a Washington, como o da Venezuela e os governos árabes adversários de Israel. Por outro lado, mesmo ao “preferir” discutir as questões internas, o faz com extrema superficialidade, preservando os interesses imediatos da emissora. Quando, por exemplo, trata do alcoolismo como a principal causa dos acidentes de trânsito, deixa de promover o necessário debate sobre a propaganda da indústria de bebida, um dos maiores financiadores da nossa TV.


 


Aliás, o debate não é o forte da Globo, nem do resto da mídia, exceção à chatíssima conversa jogada fora sobre futebol, no domingo, que nada fica a dever às banalidades bigbrotherianas, que tentam com muita força idiotizar as mentes brasileiras. Há uma grande superficialidade em abordar questões como novas normas sobre as relações da população brasileira com planos de saúde e serviços bancários e de telefonia. São medidas que abrandam a sanha com que estas e outras empresas costumam extorquir nosso povo. Nossa mídia estrategicamente se cala, ou minimiza os fatos. Pudera: quem são os maiores patrocinadores dos “reclames”? Além do mais, seriam créditos á agenda positiva do governo.


 


O fato de a Vale do Rio Doce priorizar seus investimentos no exterior, em detrimento do interesse nacional, é um emblemático exemplo da fuga de um bom debate. A mídia prefere condenar a equipe econômica do governo por não valorizar o dólar (ou por valorizar o real) e, com isso, ajudar às empresas exportadoras e às grandes corporações transnacionais, suas parceiras, cujos ativos financeiros somente conhecem o dólar como moeda e o querem forte. Para tentar convencer o telespectador, o ouvinte ou o leitor, da tese do seu interesse convida os “especialistas” adrede selecionados para emitirem suas já conhecidas opiniões. Mas, nunca para debater. Nossa imprensa não abre mão da sua liberdade de desinformação.


 


É pela manjada prática do depoimento de “especialistas”, sem debate, que nossa imprensa costuma repisar e defender suas famosas latomias. Como a de supostos gastos excessivos do governo. Mas, sonegam ao expectador uma honesta discussão sobre os investimentos em políticas do interesse público nos últimos, digamos, 500 anos. Como a de um suposto elevado custo país. Mas, fugindo do debate sobre o trabalho escravo e a forma com que outros países emergentes exploram seus infelizes trabalhadores, em busca de melhores resultados. Como a de um suposto déficit previdenciário, permanente fonte de ameaças à previdência do trabalhador. Acenos a uma forte previdência privada, antiga sanha de grandes banqueiros.


 



Há pouco tempo, a não renovação da concessão à RCTV na Venezuela produziu imenso frisson em nossa mídia doméstica. Todos denunciando um suposto atentado à liberdade de imprensa e à liberdade de expressão. Perdeu-se uma boa ocasião para se produzir um debate sério sobre estes dois conceitos. E sobre um conceito ainda mais importante: o princípio constitucional do direito do à informação, à cultura, ao entretenimento, livre da mentira, da manipulação, da parcialidade editorial. Princípio que o Estado é obrigado a assegurar a todo cidadão, por seus próprios instrumentos ou pelas concessões que faz ao setor privado. Concessões que, por serem de natureza pública, devem subordinação ao interesse do direito do cidadão.

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