O abraço nazista de Bolsonaro
Em seu encontro com Beatrix von Storch, liderança do partido neonazista alemão, AfD, Bolsonaro sela sua relação com íntima com o fascismo
Publicado 28/07/2021 09:46

O encontro do Mandrião com a deputada alemã, Beatrix Amelie Ehrengard Eilika von Storch, não seria alvo de grande repercussão se a parlamentar não fosse uma líder importante do partido Alternativa para a Alemanha, em alemão AfD, o partido que hoje é o maior representante do nazismo, e saiu das urnas de 2017 como o terceiro maior partido da Alemanha, com 94 dos 709 deputados da Assembleia Federal da Alemanha.
A visita dessa nazista assumida revela o status que é conferido a Bolsonaro, presidente do maior país da América Latina e um dos maiores do mundo, representando, para a extrema-direita nazista uma das últimas trincheiras das suas ideias, visto que Trump foi derrotado eleitoralmente e Orban, embora seja um dos representantes dessa extrema-direita, governa um pequeno e pouco influente país da Europa, a Hungria.
É bom lembrar que o AfD, nasceu em 2013, fruto de uma convergência de grupos extremistas e desde pronto condenando a Zona do Euro e as políticas alemãs em relação aos países mais pobres do Sul da Europa, além de forte discurso anti-imigração e o casamento de pessoas de mesmo sexo.
Em março de 2020, o Escritório Federal para a Proteção da Constituição classificou a AfD como um esforço extremista de direita contra a ordem básica democrática livre e como “não compatível com a Lei Básica e, portanto, colocada sob vigilância de inteligência. No início de março de 2021, a maioria dos principais meios de comunicação da Alemanha relatou que essa mesma agência havia colocado toda a AfD sob vigilância como um “grupo extremista suspeito”.

Em janeiro de 2017, Björg Höcke, uma das lideranças do AfD, declarou em um discurso, em referência ao Memorial do Holocausto de Berlim: “Os alemães são as únicas pessoas no mundo que plantam um monumento de vergonha no coração da capital” e criticou esta “política risível de chegar a um acordo com o passado “. Höcke afirmou, na ocasião, que a Alemanha deveria dar uma volta de “180 graus” no que diz respeito ao seu senso de orgulho nacional. A política de “revisão histórica” rapidamente tornou-se um discurso predominante nas organizações de extrema-direita no mundo.
O encontro de Bolsonaro com Beatrix von Storch, que, de fato teve um avô participante ativo do governo nazista da Alemanha, revela o mergulho do bolsonarismo no nazismo e isso o torna um inimigo jurado da democracia, o que não é nenhuma novidade, mas que, com essa aproximação fogosa, reforça a tese de que é necessário formar uma grande aliança pela democracia, pela civilização e pela vida.
A naturalização do bolsonarismo, como corrente política, tem levado muitos analistas políticos a tratá-lo como mais um componente da luta político partidária do BraZil e, com isso, o elemento nazista presente no pensamento e ação da horda bolsonarista é secundarizada. Parece que nossa memória ou encolheu-se ou apagamos miseravelmente o fato de que, quando do surgimento do Integralismo, na década de 30, uma criação do fascismo tupiniquim, chegamos a ter o maior partido nazista fora da Alemanha.

É óbvio que o abraço nazista, ocorrido dentro das dependências de uma país que tem um Constituição e que, no plano internacional, sempre se bateu pode defender a democracia, agora vê o quanto nos afundamos no atraso e como estamos ameaçados, concretamente, de termos um governo ditatorial nazista em pleno século XXI.
Exagero? Talvez, mas é bom sempre ficar atento pois Bolsonaro mantém um importante segmento da população próximos das suas “não ideias” e aparentemente tem um chamado “núcleo duro” de apoiadores fanáticos, em torno dos 10-15% dos eleitores o que, convenhamos, é muita gente.
Seria bom que as forças de oposição começassem a discutir seriamente essa frente ampla, se é que ela vá existir, pois quanto mais o tempo avança, o Mandrião poderá encontrar força e apoio não apenas para se manter no poder, mas pode, inclusive, utilizando o velho clientelismo, consolidar o apoio do Centrão, que certamente fechará os olhos para o nazismo bolsonarista e abrirá os bolsos para serem regiamente recompensados.