O alvo é mesmo o Lula

O expediente do “impeachment” contra a presidente Dilma Rousseff “é pura e simplesmente o biombo que escamoteia o verdadeiro golpe, cujo objetivo declarado é a construção de um governo necessariamente repressivo porque essencialmente reacionário, antipovo e antinacional”, escreveu Roberto Amaral em seu artigo “O assalto à soberania popular”, veiculado pela revista Carta Capital.

O verdadeiro golpe, portanto, começa – mas não termina – com o impedimento da presidente. Para que ele se produza – ou seja, para que se reestabeleça, com segurança, a hegemonia neoliberal no Brasil – há etapas decisivas a cumprir. A principal delas é impedir que o ex-presidente Lula seja candidato em 2018.

Na coluna publicada em 30 de março último, aqui no Vermelho (“As sementes da capitulação”), destaquei:

“O objetivo central da direita brasileira – e, quanto a isso, não pode haver tergiversações – é liquidar politicamente o ex-presidente Lula, desconstrui-lo moralmente e, assim, inviabilizar sua candidatura em 2018. A direita poderá, na atual circunstância brasileira, até mesmo obter o “impeachment” da presidente Dilma; caso não o consiga, poderá impedi-la de governar, utilizando todo seu gigantesco aparato policial, jurídico e midiático, sangrando-a até o final do mandato; mas se não excluir Lula da disputa de 2018, todas as suas articulações e iniciativas (e conquistas) desde que perdeu as eleições de 2014, terão sido vitória apenas parcial, não assegurando seu retorno pleno ao poder”.

Em seu blogue Tijolaço, Fernando Brito foi taxativo: “Toda esta história do impeachment é, essencialmente, motivada por um processo de impugnação de uma candidatura de esquerda viável em 2018”.

A pesquisa do Datafolha, divulgada dias atrás, apenas comprova que Lula é a grande pedra no caminho da direita brasileira em sua marcha para a reconquista do poder. Lula é o verdadeiro alvo do golpe. A despeito da virulenta campanha de cerco e aniquilamento que lhe move, cotidianamente, e há muito tempo, a grande mídia privada, Lula apresenta espantosa resiliência, ou seja, é capaz de manter essencialmente intacto seu notável capital politico. O insuspeito Datafolha atesta que a rejeição a seu nome caiu, que ele, caso as eleições fossem hoje, estaria garantido no segundo turno, em empate técnico com Marina, e que os tucanos estão em queda livre na preferência popular. Dado bastante significativo é que 37% do eleitorado tem Lula como o melhor presidente da história brasileira.

Mas na campanha golpista de sufocamento de Lula, em certa medida o tiro está saindo pela culatra, pois ao atacá-lo tão encarniçadamente, a direita teve o condão de retirá-lo de certo retiro e recolocá-lo no protagonismo da cena politica. E aí o ex-presidente exerce, como ninguém, sua enorme capacidade de comunicação, de convencimento e arregimentação. Está percorrendo o Brasil, reunindo contingentes populares cada vez maiores, liderando eventos que a mídia não consegue ocultar. Em outras palavras: desafiado pela direita que pretende liquidá-lo, ressurge o grande líder popular em diálogo com o povo, reavivando o que vinha amortecido no inconsciente coletivo, ou seja, sua notável dimensão de condutor das mudanças.

É verdade que Lula é um osso duro de roer para a direita (um osso quase impossível de roer), mas também é verdade que, para a esquerda, ele representa a única alternativa de vitória em 2018. O ex-presidente é um dado estratégico para ambas as forças em confronto: para a direita (para quem afastá-lo do caminho é decisivo) e para a esquerda (para quem manter viva a liderança de Lula é também decisivo).

Assim, reafirmo que negociar uma eventual retirada de Lula da disputa eleitoral de 2018 (ou seja, negociar uma questão estratégica), como parte de uma repactuação pela governabilidade (caso o “impeachment” seja derrotado no domingo) é vergonhosa capitulação. Mas há quem pense nisso.

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