O americano tranquilo

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1. Sabe por que não tem golpe de estado nos EUA?


 


 


“Porque lá não tem embaixada dos Estados Unidos”, perguntava e logo respondia o espirituoso Joel da Silveira. Sobre o assunto, é recomendável rever o filme de Philip Noyce “O Americano Tranqüilo”, belíssima adaptação do romance de Grahan Green. Melhor ainda: ler o livro.


 


 


Num resumo chulo da belíssima história de amor, diríamos que o sedutor estadunidense, diante de “nossa” eterna cumplicidade e submissão, apodera-se do coração da “nossa” linda amante. E ainda planta a semente do golpe que transferirá da França para os EUA o comando da força de ocupação no Vietnã. Mas, somente depois da vitória dos heróis Ho Chi Minh e Vo Giap sobre os franceses.


 


 


O presidente Lula esteve recentemente com Giap, na cidade de Ho Chi Minh (ex-Saigon), a maior do Vietnã. A visita ao herói nonagenário, que colocou primeiro a França e depois os Estados Unidos com o rabo entre as pernas, talvez tenha despertado em nosso presidente a lembrança de que não é de hoje que as embaixadas estadunidenses patrocinam essas visitas de “americanos tranqüilos”.


 


 


A referência é feita ao senhor embaixador Philip Goldberg, flagrado em articulações separatistas junto às lideranças fascistas de departamentos autonomistas na Bolívia. Elas vêm espalhando o terror e o ódio contra o estado de direito democrático do estado boliviano. Entre os atos de terrorismo, o assassinato racista de “índios sujos”, saque a prédios públicos e sabotagens de gasodutos.


 


 


O senhor Goldberg, sabe-se, é hoje o protótipo do americano tranqüilo de Grahan Green. Como embaixador dos EUA na Ex-Iugoslávia, orquestrou a crise separatista que resultou na independência unilateral do Kosovo, ainda não reconhecida por muitos.


 


 


2. Embaraços de um presidente


 


 


Pelo telefone, o candidato à presidência dos EUA, Barack Obama, disse ao presidente colombiano Álvaro Uribe que, se for eleito, não vai apoiar a ratificação do Tratado de Livre Comércio (TLC) entre Colômbia e EUA. “Até que Bogotá consiga reduzir a violência contra sindicalistas”.


 


 


A informação do Correio Braziliense deste sábado, 19/09, contraria a ansiedade de Uribe que há dois anos sofre com a paralisação do acordo assinado entre ele e o presidente Bush. “Temos esperança de que a qualquer momento o Congresso dos EUA aprove o acordo”, disse Uribe.


 


 


Os sindicatos de trabalhadores estadunidenses pressionam e o Congresso dos EUA recusa ratificar o pacto comercial, segundo a agência Reuters, porque que “a Colômbia deve fazer mais para reduzir os assassinatos e outros tipos de violência contra sindicalistas”.


 


 


Em abril deste ano, segundo Eltiempo.Com, Obama já considerava “um atropelo” a pretensão de Uribe: “Ridicularizaria as mesmas proteções laborais que temos insistido se incluam nesse tipo de acordos”. Dados do próprio governo colombiano revelam que 265 sindicalistas foram mortos em um ano. Em 2007 foram mortos 26 líderes sindicais. Quase dois mil vivem sob proteção legal.


 


 


Na semana passada, na Bélgica, o Tribunal Internacional de Opinião condenou o governo da Colômbia por violação aos direitos humanos, por expulsar milhares de camponeses de suas terras, e por prática de genocídio, seqüestro e assassinato de lideranças populares. De outro lado, a Alta Corte Ocidental (Western High Court), com sede em Copenhague, recusou provas procedentes do judiciário colombiano. Por entender que foram obtidas mediante violência e tortura.

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