O caso de Nadya Suleman: a maternidade como obsessão

Ela decidiu ter muitos filhos numa situação de pobreza

Em 26 de janeiro passado, a psicóloga norte-americana Nadya Suleman, 33, descasada há oito anos, mãe de duas meninas e quatro meninos, deu à luz óctuplos: duas meninas e seis meninos, cujo pai ela alega ser um amigo, David Salomon, que doou o esperma para os ciclos de fertilizações in vitro que resultaram em 14 crianças.


 


 


Ela declarou que nenhum filho foi gerado via relações sexuais, pois ''sua última relação sexual aconteceu antes do nascimento do filho mais velho, de sete anos''; ''sempre sonhei com uma família grande para afastar a solidão de ter apenas uma criança''; e que ''apenas desejei construir certos laços com outra pessoa que, durante a minha infância, acredite, fez falta''.


 


 


Mais elementos que conformam o perfil de Nadya: em 1999, recebeu diagnóstico de depressão, ''depois de ser ferida numa confusão no hospital onde trabalhava'', situação que diz ser a causa do fim do seu casamento, no qual teve dois abortos espontâneos e passou anos lutando para engravidar. Até certo período da última gravidez, ela era técnica psiquiátrica em um hospital.


 


Desempregada, está às voltas com uma dívida escolar de US$ 50 mil, por conta do mestrado que faz. O hospital Kaiser Permanente, onde nasceram os óctuplos, mobilizou uma equipe de 46 pessoas, e a conta chega a US$ 1 milhão. Nadya não tem como pagar. O hospital busca reembolso das despesas no Medi-Cal – programa de saúde da Califórnia para pobres. Nadya reside com os pais, Angela e Ed Suleman, numa casa simples de quatro cômodos, num subúrbio de Los Angeles. Disse que não precisará de ajuda do governo para criar a filharada, pois não vive às expensas do dinheiro do contribuinte! Mas recebe auxílio governamental para três filhos portadores de deficiência, um deles autista, e recolhe US$ 500 mensais em vales-alimentação.
Angela Suleman ''deu entrada em um pedido de falência, alegando perdas de US$ 1 milhão'', e declarou que tem objeções à postura doentia da filha pela maternidade; e que discorda da opção dela de ter tantos filhos biológicos, em vez de virar, por exemplo, ''professora em um jardim de infância''. Acrescentou que ''ela adora crianças e é muito boa com elas, mas obviamente foi longe demais''; ''Eu fui criada do modo tradicional. Acredito firmemente em casamento, mas ela não quis se casar''; ''Vou cair fora!''. É um aviso de que vai deixá-la cuidando dos filhos, mesmo feliz porque não restam mais embriões congelados. Ela disse que Nadya não quis descartar os embriões congelados, então decidiu viabilizar todos!


 


A descoberta do contexto social em que vive Nadya desencadeou debates de diversas ordens nos Estados Unidos, dos quais destaco dois que exigem aprofundamento: o linchamento moral de uma mulher que decidiu ter tantos filhos numa situação de pobreza, ao ponto de receber ameaças de morte; e os desacertos técnicos, morais e éticos da reprodução humana assistida, sobre os quais já escrevi artigos e um livro, ''O 'Estado da Arte' da Reprodução Humana Assistida em 2002'' (CNDM/MJ, 2002). Nesse livro, constato evidências das decorrências iatrogênicas do implante de vários embriões e da gravidez múltipla para a saúde da mulher e dos bebês e digo que a gemelaridade indesejada revela ignorância médica: não há domínio dos conhecimentos de como fazer ''bebês de proveta'' livres de iatrogenia. A prova? A necessidade de fertilizar vários óvulos, gerar e implantar vários embriões, quando as pessoas querem apenas um bebê…

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