O cinema do presente e do passado – II

Reflexão sobre a essência do cinema: a arte supera limitações técnicas, valorizando a criatividade e a expressão ao longo da história

Cena de "Gritos e sussurros"

Tomo como exemplos dois filmes. Um, feio em 1928, superexigência Outro, “Gritos e Sussurros”, feito em 1972. Realmente, são dois filmes dos mais importantes que já tive oportunidade de ver. Colocaria ambos numa relação dos Dez Melhores Filmes já vistos. Mas certamente que, se Carl Dreyer tivesse a seu alcance os meios técnicos com que contou Ingmar Bergman, ele poderia ter aprofundado ainda mais o estudo que fez sobre o martírio de Joana D’Arc. Não tendo esses meios técnicos, inclusive não contando com o som, Dreyer teve de partir para uma super exigência em cima da sua intérprete, Falconetti. E o filme marca-se pela maravilhosa expressão de dor da atriz, em quadros realmente isolados. Não contasse então com Falconetti (ou outra atriz que se submetesse à sua forma de direção), Dreyer não teria feito o extraordinário filme que é “A Paixão de Joana D’Arc”. Bergman, porém, contou com todos os requintes da técnica atual, com quatro intérpretes de grande experiência, com um técnico de fotografia, um grande artista de criatividade, com cenógrafos, com os diálogos, com uma perfeita montagem. E seu filme é, sem dúvida nenhuma, muito mais profundo, enquanto penetração na realidade humana, em todo seu dimensionamento, do que o de Carl Dreyer.

Mas mesmo o cinema, uma arte tremendamente materializada, em sua essência é intemporal. Sua grandeza com arte se encontra tanto num “Gritos e Sussurros”, quanto no simples e também maravilhoso “O Regador Regado”, que é um dos primeiros filmes de  Louis Lumière. Isso porque na arte o que realmente pesa não é o elemento técnico, mas sim a criação. E se um cineasta precisa de meios materiais imensos para se exprimir, ele também poderá fazer isso até mesmo com uma máquina de filmar primitiva e uma película preto e branco. É claro, ele será limitado materialmente, mas sua criatividade poderá chegar até nós, por brechas que consiga descobrir.

E nesse aspecto, para descobrir o que há de maravilhoso num filme, seja ele do passado ou do presente, pede-se o maior esforço, não do cineasta (que já deu sua participação), mas sim do espectador. Somos nós, espectadores, que temos de descobrir quando um filme é uma criação de arte (ou então um simples artefato técnico).

Na década de 20, como não contava com os grandes recursos técnicos para se expressar, o cinema recorria, particularmente, ao trabalho do ator. E era através do ator que o cinema melhor se comunicava com o público, e não podia deixar de ser dominado pelo chamado “star system”.    

Os três filmes, “O Médico e o Monstro” , “A General” e “O Corcunda de Notre Dame” são marcados, fundamentalmente, por seus atores principais. Claro que para os olhos dos espectadores de hoje serão filmes com uma fotografia falha, com pouquíssimos recursos de montagem, com uma linguagem realmente primitiva. Mas se estivermos atentos, vamos descobrir neles a chama da criação, particularmente através de John Barrymore, Buster Keaton e Lon Chaney, três atores que marcaram o cinema da década de 20 e ainda hoje são lembrados como presenças decisivas na História do Cinema.

O passado não me parece dever ser cultuado com nostalgia (pois hoje temos um cinema ainda mais maravilhoso), mas devemos abrir os olhos com largueza, para conhecermos o que então foi criado.

Jornal do Commercio, Recife, 13.07.1975

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Um ano do Governo popular

Um ano parece pouco, mas faz muito tempo, e o Governo pretende ser popular. Embora seja ligado a algumas forças de direita, Lula conseguiu manter uma linha de esquerda, sem dúvida nenhuma. Realmente, no mundo, ele é um político que consegue se incorporar ao seu povo, embora o país seja muito grande.

Um ano deixou que ele mostrasse um trabalho personalizado, mas caminhando em direção ao novo centro. Temos algumas figuras como Fernando Haddad, que demonstra estar mais voltado para as necessidades mais básicas do povo.

Eu fico alegre em presenciar este Governo. pena que eu esteja doente há quatro meses, e assim não pude acompanhar o Governo como no começo. Penso que este governo de Lula poderá melhorar mais, mesmo que ele não seja mais candidato. Mas é possível que Fernando Haddad seja o candidato nas próximas eleições.

Texto ditado para Maria Lúcia. Olinda, 11.12.2023.

Página do Facebook de Celso Marconi

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