O escândalo do legislativo do Paraná e uma nova cultura política

Na crise instalada na Assembléia Legislativa do Paraná, além dos fatos condenáveis de corrupção e favoritismo, chama atenção o espírito de corpo, de autoproteção dos parlamentares, independentemente das suas filiações partidárias e mesmo posturas ideológicas.

Trata-se de um mecanismo de autodefesa, que limita no caso em tela, a separação do joio do trigo, ou melhor, coloca todos no mesmo balaio. Os eventos configuram o maior escândalo de corrupção envolvendo políticos do Paraná dos últimos anos.

Além disso, a gravidade do caso requer uma conduta mais atilada dos parlamentares, uma necessária postura de investigação e de sentido autocrítico do conjunto da Casa – que se diga – uma das mais fechadas e conservadoras do Brasil. Para se ter uma idéia, além da falta de transparência, a Alep não tem uma prática institucionalizada que permita a participação da sociedade nos seus debates e no seu funcionamento.

A TV Sinal, que poderia ser um instrumento que favorecesse a participação da população, ainda tem uma programação essencialmente de promoção dos próprios parlamentares. O trabalho das comissões permanentes não conta com a necessária integração com as organizações da sociedade e movimentos sociais.

Da Alep pouco se sabe da sua agenda e da condução da mesa executiva. Os fatos demonstraram que ela é pautada por uma visão patrimonialista e voltada para a perpetuação de um determinado grupo político, o que esvazia e viola todo o sentido da vida do parlamento, que deve ser a casa da representação popular, um dos estuários dos anseios da cidadania.
Portanto, aos parlamentares da atual legislatura, extremamente desgastados com o atual descalabro político e administrativo da Alep, cabe um conjunto de esforços políticos, morais, e de procedimentos renovados para a construção de uma nova cultura política na Casa.

Um primeiro e urgente passo nessa direção, o que sinalizaria para a população uma nova conduta de seriedade e transparência, seria o afastamento imediato de Nelson Justus da presidência e de toda a atual mesa diretora. Apenas esse gesto denotaria uma verdadeira vontade política de mudanças no parlamento estadual.

Manter a atual Mesa Diretora revela exatamente o sinal oposto de qualquer mudança substancial nas práticas e condutas da Alep. Neste sentido, os deputados precisam agir, rompendo as barreiras do silêncio coletivo e programado.

O manifesto divulgado pela OAB-PR e um conjunto de entidades da sociedade civil e as ações do Ministério Público refletem a opinião da população pelo esclarecimento cabal dos crimes ocorridos no parlamento estadual. No entanto, a atitude dos deputados nesses dois meses foram pouco edificantes e, infelizmente, novas e graves denuncias surgiram, o que praticamente deixaram a Assembleia em estado de acefalia e descrédito.

A sociedade continuará a demandar as respostas e fará, com certeza, o seu julgamento.

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