O estratégico Oriente Médio
Já tratei da questão estratégica no Oriente Médio, seja pela sua geopolítica regional – uma região de passagem para três continentes diferentes –, seja pela questão do petróleo – a região é sabidamente tratada como estratégica por todas as potências no pl
Publicado 07/02/2008 18:26
A questão do petróleo
Em linguagem econômica, a região do Oriente Médio produz uma das commodities mais estratégico no planeta hoje, ainda que não renovável: o petróleo. Não é nosso objetivo discorrer sobre esse tema, objeto de outros trabalhos aqui publicados no passado. No entanto, alguns números são estratégicos e devem ser apresentados, especialmente num momento delicado da economia mundial em que essa commoditie atinge a marca astronômica dos US$100.00 por barril.
Há um debate entre cientistas e pesquisadores, sobre por quanto tempo ainda o petróleo vai durar para abastecer o mundo. Se por dez mil anos seguidos a humanidade consumiu uma média diária de 20 Watts de energia (equivalente a uma lâmpada de árvore de natal ligada por 24h seguidas) e hoje consome cem vezes mais, isso se deve ao fator da descoberta da exploração do petróleo a partir de 1859 por Edwin Drake nos Estados Unidos num campo da Pensilvânia.
Alguns falam que as reservas mundiais dariam para 40 anos, outros falam que para os próximos 75 anos e alguns ainda mencionam que durante o século 21 inteiro não haverá problema da falta de petróleo no mundo. Independente da verdade dessas afirmações, o que queremos demonstrar aqui é o potencial estratégico das reservas petrolíferas do Oriente Médio, particularmente dos países árabes (aqui excluímos as reservas do Irã, país persa).
Os números podem variar de fonte para fonte, mas em números redondos, é seguro que todas as reservas dos países árabes significam hoje 60% de todas as reservas mundiais, estimadas num total de um trilhão de barris (nosso Brasil, nesse cenário, antes das descobertas dos campos gigantes estava na faixa de no máximo 1% das reservas mundiais provadas). Os países árabes têm, portanto, pelo menos 600 bilhões de barris provados e em exploração comercial. Isso, pela ordem de grandeza, são os seguintes países árabes produtores e exportadores de petróleo: Arábia Saudita (com 25% de todo o petróleo do planeta), Iraque (11%), Emirados Árabes Unidos (9,3%), Kuwait (9,2%), Líbia (2,8%), Qatar (1,5%), Argélia (0,9%), o que totaliza exatos 59,4% já mencionados.
O potencial comercial da região
Os países árabes, ao todo 23, sabem que precisam diversificar seu comércio internacional, exportar e importar produtos além da conta petróleo. Estão fazendo investimentos em indústria pesada, mas jogam peso na questão turística. Uma grande força na região. Nos Emirados Árabes, que acabam de inaugurar a primeira linha aérea direta entre Brasil e um país árabe, com seis vôos diários (a empresa aérea é a Fly Emirates, cuja sede fica em Dubai na capital do país), tem o único hotel sete (!) estrelas do mundo, cuja diária num quarto mais barato custa astronômicos mil dólares (algo como R$1,7 mil reais). Esse grande hotel está contratando garçons de vários países, vários deles brasileiros inclusive, para trabalhar (paga-se pouco, a miséria de 400 dólares, menos da metade da diária mais barata).
Como disse um diplomata brasileiro ouvido pelo Estadão, em reportagem alusiva ao potencial comercial dos países árabes com o Brasil: estamos chegando tarde à região. As potências do mundo inteiro sabem disso e lá investem e mantêm relações comerciais intensas. Em contrapartida, os países árabes investem seus petrodólares em negócios, empresas, bancos e indústrias dos países desenvolvidos. O Brasil precisa se preparar – e está se preparando – para receber esses investimentos em dólares originados da riqueza do petróleo da região.
Lula, depois de Dom Pedro II, foi o único chefe de estado brasileiro a visitar um país árabe e compreender a importância desse comércio bilateral. Tanto que realizou a 1ª Cúpula dos Países árabes com a América do Sul no mês de maio de 2005 em Brasília, após o seu primeiro giro pela região no final de 2004, onde visitou nove países e foi efusivamente recebido. Os povos árabes sabem que o Brasil acolheu desde o final do século 19, milhares de imigrantes árabes que vieram para nossas terras em busca de paz e prosperidade. Os filhos e netos, já em terceira e quarta geração, são hoje prósperos em várias áreas, do saber, da indústria, do comércio, da universidade, etc. Calcula-se que são em torno de 10 a 12 milhões descendentes de árabes que são brasileiros. Como dizem os integrantes do movimento negro, que se proclamam “afro-descendentes”, estes seriam os “árabes-descendentes“. Só para se ter uma idéia, estima-se que só descendentes de libaneses seriam quatro milhões, quase que todo o Líbano inteiro.
Como podemos ver no gráfico, fornecido pela Câmara de Comércio Árabe – Brasil, cujo presidente é o Dr. Antônio Sarkis Júnior, as exportações do Brasil para os países árabes vêm crescendo a cada ano. Se compararmos 2006 e 2007, veremos um incremento de 12% de crescimento na movimentação de recursos em dólares. Delegações imensas de empresários brasileiros visitam mensalmente os países árabes, participam de feiras para vender seus produtos e vice-versa. Exportamos em 2007 mais de sete bilhões de dólares em produtos de diversas naturezas (vejam o site da CCAB que detalha todas as áreas de exportação). Não devemos deixar de lembrar que quando Lula tomou posse, as exportações em 2002, eram de 2,6 bilhões de dólares e hoje quase que triplicaram. Mas, têm potencial para crescer ainda mais como avaliam os analistas em comércio exterior e a própria CCAB. A estimativa de crescimento para 2008, é de pelo menos mais 10%. Isso será ainda mais incrementado coma realização da 2ª Cúpula de Países Árabes e da América do Sul (em país ainda a ser definido). A nossa pauta de exportações é tão diversificada que, segundo dados da Câmara, atingiu em 2007 mais de 2,2 mil produtos diferentes.
O presidente Lula planeja a sua terceira rodada para os países árabes ainda neste ano. E deve levar consigo os governadores do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral e de Minas Gerais, Aécio Neves, que têm grandes interesses no comércio bilateral. O embaixador Celso Amorim, ministro das Relações Exteriores do Brasil, embarca esta semana para uma rodada em alguns países, para acertas a assinatura de acordos bilaterais de cooperação econômica entre Brasil e países árabes. Falta a discussão detalhada das tarifas de importação e exportação, de forma a não prejudicar nenhuma empresa de nenhum setor no Brasil e em algum país árabe. É a política positiva exterior do nosso país, incrementada pelo presidente Lula que, sem desprezar a importância e o comércio bilateral com os países do Norte desenvolvido, passou a olhar mais também e com prioridade os países do Sul. É o chamado comércio Sul-Sul, ao qual apoiamos que siga ocorrendo dessa forma e com mais intensidade se possível, para que se desenvolvam mais e mais as nossas economias e que a riqueza produzida possa ser bem distribuída entre as que a produziram, desejo de todos nós.
Nota
(1) Esta matéria só pôde ser realizada a partir de duas fontes constitutivas: a) Câmara de Comércio Árabe- Brasil, cujo endereço eletrônico é: http://www.ccab.org.br/site/ b) Artigo do enviado especial do Estadão à Abu Dabi, intitulado “Brasil busca petrodólares dos países do Golfo”, publicado no jornal do dia 6 de fevereiro de 2008, página B6, Economia.