O fator Moro

Uma verdade difícil de engolir do ex-juiz: ele tem o seu futuro nas mãos de Bolsonaro. E o futuro do governo está amarrado ao destino de Moro.

Sérgio Moro e Jair Bolsonaro - Foto: Sérgio Lima/Poder360

As dores de cabeças de Jair Bolsonaro e seus aliados no planalto passam quase sempre por questões familiares, algo que já tratei em outras ocasiões, mas que nunca é demasiado de se recordar. O filho senador, chamado de Flávio B. ou apenas B. nas redações de jornais, está implicado em acusações que até hoje encontram-se vagarosas por diversas forças institucionais. Este é o pano de fundo do mais novo entrevero entre Moro e Bolsonaro.

No cargo há pouco mais de um ano, Jair já consolidou sua imagem enquanto chefe. Impulsivo e nada afeito ao diálogo, dá declarações controversas, foge de entrevistas, perde as estribeiras com facilidade e nenhuma vitória do seu governo até aqui foi atribuída diretamente a ele. A “personalidade” política do presidente vista como bélica agrada apenas a um eleitorado mais fanático e prejudica demais todos aqueles eleitores que apostaram em Bolsonaro como a melhor alternativa antipetista. Ele mostrou que não consegue ir além, e os trezentos e sessenta e cinco dias no cargo mostraram que é difícil que aprenda alguma habilidade nova.

As apostas para que o governo decole são os ministérios, ditos repetidas vezes até aqui como um mantra: economia e justiça, Moro e Guedes, eteceteras e eteceteras. Mas o estofo vai diminuindo a cada nova crise ridícula que se enfrenta. O andar da carruagem já demonstra que muito não se pode esperar. A desburocratização oferecida pelo governo passa diretamente pelo processo de desconstrução de políticas públicas, associadas aos governos petistas, e as medidas na área da segurança pública são, além de punitivistas, puramente teatrais.

A pauta da segurança pública foi o que levou Moro a ameaçar deixar o governo, muito pela insatisfação de ser comandado por alguém que ele pouco admira ou respeita intelectualmente. Mas esta é a verdade difícil de engolir do ex-juiz: ele tem o seu futuro nas mãos de Bolsonaro. E o futuro do governo está amarrado ao destino de Moro. Atados e girando no ar. O preço de ter incorporado ao seu time o ícone da operação lava jato.

Nunca se falou tanto em 2022. Porque a direita brasileira também vive sua crise de renovação. Essa crise conduziu os partidos conservadores brasileiros à deriva da extrema-direita por aqui, uma espécie de caricatura impressionista do que se prática nos EUA.

Mas o que mais me chama a atenção é esta movimentação em torno de Sergio Moro, que não tem partido, que não fala sobre projeto para o Brasil, que não tem ideologia, que não expõe o que pensa, que foi alçado nacionalmente na condição de justiceiro, que ignora o sistema de justiça para completar sua missão de limpar o país da corrupção.

O trabalho de Moro é árduo porque o Messias que está entre nós não é suficiente, ele não serve. Então é preciso de algo mais. Mas a jornada do herói pode ser interrompida caso o Supremo Tribunal Federal o alcance primeiro. Prêmio de consolação. Nesse caso a missão de salvar o país pode esperar, ou ser delegada para alguém com mais paciência e menos ambição.

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