O governo é do povo mas o mercado de trabalho não!

Partindo do princípio, do fato de o governo federal vir num rumo de investimentos e cuidados com a educação, que não objetivo discutir aqui, é perceptível que já temos prontos no mercado muitos técnicos, mestres e doutores. E um número em crescimento, de modo que não procurarei colocar dados aqui, pois o que desejo discutir prescinde deles.

Ocorre que nem tudo no Brasil é diretamente regulado pelo governo. Por exemplo, por mais leis que haja, o que fazemos quando chegamos à secretaria ou departamento de uma escola ou universidade (sou professora), com nossa graduação e mestrado devidamente comprovados e as pessoas dizem: "preferimos experiência à formação"???

O governo, cumprindo seu papel, abriu portas para a formação. Há um grande número de pessoas que, como eu, fez a graduação após os 30 anos; graduou-se em algo com que não tem experiência ainda. Estudei com uma colega que trabalhava numa cozinha e fez letras comigo. E aí, somos invisíveis para o mercado de trabalho? As escolas/Universidades privadas não nos querem porque não saímos do curso normal aos 18 anos e começamos na profissão? Mestres e doutores não interessam? Porque o salário tem de ser melhor? Oi!!!!! Que educação se quer oferecer?

"Faça concurso", eu escuto. Já viram as condições de trabalho no RJ? Curriculuns mínimos aos quais você não deve acrescentar nada? É ficar preso naquele mínimo suficiente, ou direcionado, para provas que geram índices e que se dane a formação do aluno (com o perdão do "que se dane"). Sem falar num monte de funções administrativas que os professores são obrigados a cumprir. Reparem que nem comentei os salários. Mas esse problema não se limita ao "setor" da educação.

O país é capitalista! Me parece que o mercado de trabalho quer profissionais qualificados para resolver suas necessidades, mas quer continuar, coerente com a lógica do lucro, a pagar o mínimo possível e reclamando. Acontece que quem vai se qualificar, quem vai estudar mais quer melhorar de salário, prosperar dentro da teoria deste sistema, ou seja, "se esforce, trabalhe, faça o seu melhor e chegara lá" e o "lá" que se busca é mais dinheiro no final do mês.

Essa cultura capitalista de que tem de se ter "boa aparência" que, mesmo repudiada já em leis, se mantém. Busca-se um empregado com formação, mas jovem; com experiência anterior, jovem, mas ninguém quer fazer a primeira contratação. Experiência tem relação direta com o tempo, com vivência; formação tem relação direta com tempo e condições materiais. Esta sociedade esquizofrênica estipula metas excessivas, e propagandeiam que quem não se enquadra aceita ser tratado como "menos", aceite o emprego "que der"; ou seja, as normas são estipuladas por um ser "mercado" que não se pode identificar, mas a conta arrebenta para as pessoas.

Passadas as eleições, em que muitos demonstraram tanto interesse em definir os rumos do pais, uma dica: de que adianta as ações de saúde e as pesquisas científicas contribuírem para a longevidade da vida; o governo abrir portas para a formação em qualquer idade e o mercado continuar querendo somente jovens com experiência anterior, cursos e idiomas antes dos 21?

Uma última coisinha: por melhor governos que o Lula tenha feito (e fez) e a Dilma faça, não se apaga o período dos "outros" governos, em que campeavam as contratações sem carteira assinada e tal. Temos de corrigir o rumo, mas o mal feito não se apaga, não. Trabalho desde os 15 anos, mas não há nada em minha carteira. Isso é o mercado quando não se fiscaliza! Que alívio que mantemos a pres. Dilma, mas há muito o que se fazer na estrutura deste país.

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