O mundo é mais plural do que os grupos de Zap

A polarização nas redes reflete um desafio real para a construção de uma sociedade unida, destacando a importância do diálogo e empatia no enfrentamento das divergências políticas.

Imagem: Freepik

Há algum tempo convivo e ao mesmo tempo analiso grupos de WhatsApp em que estou inserido, são um retrato do nosso tempo, mudam e se adaptam numa velocidade impressionante, corroem formas, comportamentos, valores e parâmetros de toda uma sociedade.

Os grupos a que me refiro tem, no geral, a temática focada nas cidades ou na política, reproduzem vídeos, áudios e postagem de seguidores dos 2 grandes campos postos na política brasileira desde o impeachment de Dilma e a ascensão do bolsonarismo, superada com a eleição de Lula para um terceiro mandato.

Neles as palavras se dissolvem, imperam áudios e vídeos, quando os membros “falam” o fazem com áudios exaltados, quase nada se escreve, um retrato de um quadrante da política e da nossa sociedade que vai ganhando vulto na negação, os mais ásperos são adeptos do ideário do ex-presidente Bolsonaro e seus representantes locais, na grande maioria das vezes.

Negam a ciência, negam a necessidade do estudo, negam os fatos, negam a História. Ao não lerem acabam não aprendendo (ou desaprendendo) a escrever, assassinam aqui e ali o português, se escondem em áudios toscos e curtos, talvez com vergonha de terem perdido o dom da comunicação escrita, ou quem sabe orgulhosos de terem mais uma medalha de sua ignorância para exibir?

Vale dizer, para eles não há ignorância ali. Há certezas, forjadas a partir de centenas de vídeos e áudios apreciados, que se fundamentam no ódio e na propagação da desconfiança sobre todos aqueles que pensam diferente, são combustível da polarização, demarcam quem não pensa igual como inimigo, fazem da ciência e do estudo algo a ser combatido, afinal há teorias da conspiração em todos os cantos, negando cada fato, dado ou estudo com uma nova enxurrada de fake news.

Isso tudo nos traz a encruzilhada que antecede o processo eleitoral nos municípios em 2024: é possível unir o país, como afirma o slogan do novo governo Lula (união e reconstrução)?

Bolsonaro comete um erro grave nesse processo. Aposta mais e mais na polarização e na demarcação de um campo seu, puro, sem muitos aliados ou pluralidade.

Lula faz o oposto, o PT apresentará o menor número de candidatos a prefeito em capitais de sua história, tenta reeditar uma frente ampla e plural, buscando isolar os postulantes mais reacionárias.

Mas o discurso de “nós” contra “eles” não parece ser exclusividade da ultradireita em alguns momentos. Há quem não enxergue que para derrotar o fascismo na última eleição presidencial foi necessário a edificação de uma frente amplíssima e que, mesmo assim, Lula ganhou por um triz.

Então, não há como unir ou construir um sentimento na sociedade que supere a polarização calcado no ódio e na negação, sem buscar trazer brasileiros e brasileiras que foram ludibriados e contaminados com o ideário da ultradireita. É preciso estender a mão, abraçar, conversar, ter paciência e conquistar com muito diálogo e empatia aqueles que se deixaram levar pelo canto de um cisne que nada tem de belo ou nobre.

O mundo real é muito mais plural do que os grupos do WhatsApp, o principal local para travar essa disputa não se dá neles e sim no diálogo olho no olho, com os amigos, parentes e afins. No geral, grupos de rede sociais acabam por ser tornar bolhas, aproximam os que pensam de maneira similar e afastam os que divergem, nada a ver com o mundo de verdade em que vivemos, aqui temos contato cotidianamente com uma miríade imensa de opiniões (e não delírios ou fantasias) diferentes da nossa, que nos enriquecem e ajudam na formação de opinião reflexiva. Ainda bem.

As opiniões expostas neste artigo não refletem necessariamente a opinião do Portal Vermelho
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