O papel do Brasil na crise de Honduras

A anunciada volta de Manuel Zelaya ao governo de Honduras impõe uma grave derrota à direita daquele e dos demais países do mundo, entre os quais os conservadores do Brasil. E, por outro lado, deixou evidente o caráter golpista desses personagens.

A solução do impasse, entretanto, realça tanto o papel do Brasil nesse episódio quanto o caráter golpista da direita em todos os quadrantes do planeta, embora ela procure demonstrar o contrário.

Através de seus meios de comunicação a direita brasileira expressou todo o seu caráter reacionário. De um lado criticava o governo Lula por permitir o uso de sua embaixada em Tegucigalpa pelo presidente Zelaya e seus partidários; do outro não escondia sua torcida pelos golpistas de Roberto Micheletti, a quem chamava de “presidente de fato”; procurava mascarar seu desprezo pela democracia sob o tosco argumento de que Zelaya é simpático ao socialismo, revelando não só uma estranha noção de democracia como de respeito pela vontade popular. E agora, dissemina a idéia de que a “solução final”, com interferência americana representa uma derrota para a diplomacia brasileira.

Os fatos e a realidade, porem, não permitem que a direita comemore nada.

O simples fato de não ter conseguido manter um golpista no governo de Honduras foi uma derrota da direita e uma vitória do governo brasileiro, que desde o primeiro momento repudiou o golpe de estado e não reconheceu o governo golpista.

A defesa dos golpistas, feita pela chamada grande imprensa brasileira, não se constitui numa surpresa e tampouco é um fato isolado. A rigor ela apoiou todos os golpes, incluindo a ditadura militar brasileira que foi de 1964 a 1985.

A tentativa de “justificar” seu caráter cordato com os golpistas como sendo uma repulsa à simpatia de Zelaya pelo socialismo é grotesco. Compete ao povo hondurenho decidir o governo e o tipo de governo que melhor lhe aprouver. O resto é escapismo.

E, por fim, todos sabem que se Zelaya não tivesse voltado a Tegucigalpa e se refugiado na embaixada do Brasil é muito provável que os golpistas transformariam a quartelada num fato consumado, com o velado apoio dos Estados Unidos e a complacência dos meios de comunicação da direita.

A participação dos EUA na pressão pela saída de Micheletti só foi possível diante da firme repulsa ao golpe que países como Brasil, Venezuela e Bolívia, dentre outros, demonstraram desde o inicio da crise hondurenha.

Por tudo isso não há como a direita comemorar. Mas as forças progressistas venceram mais uma batalha. É merecida a comemoração.

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