O Santo Negro
A resistência negra na diáspora africana se faz por diversas vertentes e, sem dúvidas, as de cunho religiosos são fundamentais e durante séculos foram a essência de nossa sobrevivência. A miscigenação de povos, cultura e religião fez surgir novas formas de proferir a fé, seja na catolização das religiões de matrizes africanas, derivando o sincretismo religioso como a brasileiríssima umbanda, seja no cristianismo diferenciado expresso nas igrejas negras -antes segregadas- nos Estados Unidos.
Publicado 12/04/2016 18:17
No Brasil escravocrata a história não foi diferente. Proibidos de frequentar missas, os escravizados criaram irmandades independentes e, em nome da fé e da resistência, adotaram o mesmo Deus dos seus senhores. Dessas irmandades, uma das mais antigas é a do Rosário dos Homens Pretos localizada na capital paulista, no largo do Paissandu, que resiste há mais de 300 anos.
Fomentada pela Secretaria de Promoção da Igualdade Racial, a Irmandade do Rosário e mais cinco irmandades de São Benedito – o santo negro – farão um mês de festejo na cidade de São Paulo, a partir deste sábado.
Por que Benedito? Não diferente da maioria dos jovens negros dos dias atuais, Benedito sofria diariamente com a discriminação racial. Um dia, foi defendido por um frei eremita que passava pela região e profetizou sua vida de santo religioso. Com a benção de seus pais, deixou o trabalho e seguiu em busca de sua vocação. Cozinheiro e analfabeto, acabou sendo escolhido como superior do Convento em uma eleição inédita. A vida de penitência tornou-o cada vez mais frágil e Benedito morreu aos 65 anos em 1589. A Igreja Católica o declarou santo após um processo canônico que durou mais de 200 anos. No Brasil, é tradicionalmente venerado pelos negros, que se identificam com a descendência de escravizados e origem africana do santo.
Mais do que um evento religioso, o intuito do festejo é promover uma grande mobilização, trazendo esse exemplo do passado que dialoga tanto com nossos problemas nos dias atuais.