O sindicalismo e o desenvolvimento

Na semana passada, as seis principais centrais do país se reuniram para discutir a posição do sindicalismo diante do segundo mandato do presidente Lula. Apesar das divergências no processo eleitoral, quando o presidente da Força Sindical aderiu ao direiti

Todos os participantes concordaram que é urgente destravar o crescimento econômico, superando o tripé neoliberal da política monetária restritiva, de juros estratosféricos e metas irreais de inflação; da política fiscal contracionista, de superávits primários recordes que sabotam os investimentos em infra-estrutura e nos programas sociais; e da política cambial que penaliza a balança comercial brasileira. Houve consenso entre as centrais sindicais de que este receituário serve unicamente ao capital financeiro, tornando o Brasil um paraíso da especulação, em detrimento da produção e do trabalho.


 



Três ingredientes decisivos



 


A unitária reunião das centrais, a exemplo do que já havia ocorrido na plenária nacional da Coordenação dos Movimentos Sociais (CMS), revela uma nova postura das organizações populares. Diferentemente da experiência traumática do primeiro governo Lula, elas agora tentam evitar dois extremos perigosos: seja o da “passividade bovina”, como ironiza João Felício, dirigente da CUT, para fazer a autocrítica da postura acrítica adotada diante de um governo oriundo das lutas sociais; seja a do voluntarismo esquerdista, que resvalou em ações que reforçaram o coro golpista da direita, como na campanha sectária do “fora todos”.


 


O desafio dos movimentos sociais, no qual se inclui o sindicalismo, será o de combinar três ingredientes decisivos: a estratégica autonomia das suas organizações diante do Estado, a capacidade de pressão para interferir nos rumos do país e a inteligência política para não fazer o jogo das forças da reação. Tanto a plenária da CMS como o encontro das centrais demonstraram disposição de caminhar neste sentido. No caso do sindicalismo, já está agendada uma manifestação em defesa do reajuste do salário mínimo; já a CMS aprovou um carregado calendário de mobilizações para o próximo período.


 


A contrapressão da burguesia


 


A instantânea resposta do movimento social, que não se embriagou com a vitória eleitoral e nem caiu no ceticismo dos principistas, ganha ainda maior importância em decorrência da também rápida resposta das classes dominantes. Fragorosamente derrotada nas urnas, a elite neoliberal retornou ao campo logo após o anúncio do resultado do segundo turno. Ela já escolheu três alvos para fazer a sua intensa pressão e para tentar enquadrar novamente o governo: não aceita qualquer mudança na política macroeconômica, no seu tripé neoliberal; deseja alterar profundamente a política externa; e pretende brindar o poder da mídia.


 


No primeiro caso, a ardilosa direita tem feito o maior escarcéu com o anúncio de que o segundo mandato do governo Lula representará “o fim da era Palocci”, como aventou o ministro Tarso Genro. De imediato, os neoliberais fizeram terrorismo contra o risco do retorno da inflação, do aumento dos gastos públicos e da adoção de medidas “inibidoras do mercado”, e tentaram linchar o ministro Guido Mantega. O intento dos capitães das finanças é manter a orgia financeira atual, sem qualquer mudança. 


 


Mídia se finge de vítima


 


No segundo caso, a direita tenta estimular intrigas contra a equipe que coordena a atual política externa, como ficou patente numa reportagem do jornal Valor Econômico. O alvo, novamente, é o secretário-geral do Ministério de Relações Exteriores, o embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, acusado de “terceiro-mundista”. Apesar do PSDB ter sido rejeitado nas urnas, a direita procura emplacar o seu programa, que prega o “alinhamento automático” com os EUA e a retomada das negociações da Alca, e despreza todos os atuais esforços no sentido de fortalecer o Mercosul e as relações Sul-Sul.


 


Por último, os neoliberais tentam proteger sua mídia venal


 


Desmascarada no processo eleitoral, ela agora tenta se passar por vítima. Divulga que está sendo alvo de uma ofensiva autoritária de perseguições, como no caso do depoimento na Polícia Federal de jornalistas da revista Veja e na escuta telefônica da Folha de S.Paulo. A elite burguesa sabe do poder descomunal da mídia na luta pela hegemonia na sociedade e faz de tudo para defender seu monopólio privado. O que está em jogo não é a “liberdade de impressa”, como cinicamente afirma, mas a “liberdade de empresa”. Teme que o governo Lula finalmente adote medidas para democratizar os meios de comunicação, superando a fase das ilusões na neutralidade da mídia.

As opiniões expostas neste artigo não refletem necessariamente a opinião do Portal Vermelho