O voo da galinha

Liderança paroquial com pretensões de voo maior, sem ter, contudo, o menor rabisco de projeto para o País, além do comportamento político farsante, terá apenas o voo da galinha. Este é o conclusivo perfil que o tucanato paulista identificou em Eduardo Campos, a ponto de despachar seu próprio presidenciável, Aécio Neves, a Pernambuco para tentar afinar com o então governador o discurso (ou o não discurso) de oposição à reeleição da presidenta Dilma.

Sonhava o tucanato de alta plumagem com a possibilidade de desgastar a candidatura Dilma mediante a união dos esforços oposicionistas a bater incessantemente em suas possíveis fragilidades políticas.

Acontece que o comportamento do eleitorado brasileiro visto em pesquisas várias, apesar de mostrar uma inconteste vontade de mudanças na política de governo, demonstra, no entanto, a confiança de que é Dilma que detém a capacidade para promovê-las. Essas mesmas pesquisas também mostram que a artilharia de Eduardo e Aécio contra Dilma só tem produzido mobilização de opinião entre eleitores tucanos e tucanófilos, que migram de um para outro candidato de oposição dependendo da virulência do discurso. Neste aspecto, a candidatura Eduardo, por ser produto de traição política contra o “lulopetismo”, tem se beneficiado melhor dessa migração.

Esse bate cabeças nas estratégias de Aécio e Eduardo, parece decorrer da enorme indigência no referencial político dessas candidaturas. FHC, até bem pouco a única liderança tucana a puxar orelhas de seus liderados, virou marionete destes. Foi o que se viu no caso da tentativa de boicote tucano ao vitorioso e histórico marco civil da internet, cuja aprovação foi capitaneada por Dilma Rousseff. Nesse episódio, registre-se, Eduardo, seguindo a cartilha oportunista dos tucanos, na tentativa de derrotar o governo no parlamento, também surfou contra os interesses da sociedade civil brasileira e, claro, contra a totalidade dos internautas do País.

Ao mandar os parlamentares do PSB votarem contra o projeto, Eduardo Campos escolhe o lado que lhe é mais caro, o lado do financiador de campanhas, do empresariado predador, contra o usuário do sistema; prefere o lado da exploração mercantil das provedoras contra a democratização da internet. A visão estreita, paroquial, a contrariar a demanda universal, como revela a repercussão internacional a mais essa conquista brasileira. Mais que a visão estreita, também reforça e identifica o novo perfil traíra do candidato, na seara ideológica, o sem-cerimonioso choque frontal contra antigas referências políticas, a começar pelo avô, Miguel Arraes.

Além da falta de discurso e de referência nacional, os dois candidatos têm derrapado em problemas digamos pouco republicanos, bem mais sérios que aqueles que a dupla assaca contra o governo Dilma. No caso de Aécio, questionamentos à sua gestão, como governador de Minas, além daquelas relacionadas ao “propinoduto tucano” paulista, instalado desde o governo Covas até a atual gestão Alckmin. Do lado pernambucano, a “nova política” tem revelado a grande farsa do governo Eduardo, o coronelismo político redivivo em sua própria personalidade. E problemas éticos e de eficiência a pulularem pelos quatro cantos do belo palácio do Campo das Princesas.

Pioram as agruras eduardinas uma planilha apreendida pela Polícia Federal no escritório do doleiro Alberto Youssef a revelar que três grupos contratados pela Petrobras para a obra da refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, pagaram R$ 31 milhões a empresas dele. Entre as empreiteiras citadas há registro de financiamento de campanhas do PSB de Eduardo no período correspondente. Também pesa na conta de Eduardo um sem número de renúncias fiscais sem o retorno contratado. No caso da Schincariol, a renúncia fiscal feita pelo governo estadual foi usada para lesar o sistema tributário em valores que superam um bilhão de reais (proc. nº 0000650-84.2005.4.02.5107, 1ª VF, Itaboraí).

E não fica por aí a “Nova Política”. A advogada e procuradora do município do Recife, Noélia Brito, em sua coluna semanal do Blog do Jamildo, revelou o golpe de Eduardo e seu novo poste-candidato ao governo do Estado, seu ex-secretário da Fazenda, Paulo Câmara, contra o povo pernambucano. Para compensar os rombos decorrentes das generosas renúncias fiscais a dupla decidiu, por decreto, cobrar o ICMS sobre o valor anterior, bem mais alto, ao da medida provisória baixada pela presidenta Dilma. MP convertida em lei, que reduziu substancialmente a conta de luz do consumidor brasileiro. E o povo de Pernambuco nem percebeu a malandragem.

Antes de deixar o governo, Eduardo ainda amarrou verbas do contribuinte pernambucano a cooptação de prefeitos à candidatura Paulo Câmara, mediante seduções de lideranças gestoras importantes. Opositores contabilizam ações de “bolsa-apoio” e outros afagos às prefeituras de Caruaru, Gravatá, Arcoverde… A “Nova Política” é dinâmica: contra o ex-governador pesa ainda uma investigação do Ministério Público sobre um esquema de desvios de recursos para financiamento de campanhas políticas instalado nos governo de Pernambuco, da Paraíba e no Ministério da Ciência e Tecnologia na gestão do então ministro Eduardo Campos (*)

O coronelismo eduardino também mereceu recente editorial da Folha de S Paulo dando conta de que o governador recém licenciado resolvera quase que dobrar a verba anual de propaganda do governo estadual, ao mesmo tempo em que deixava o Estado com endividamento dos maiores do País. Passara a cem milhões a verba que se distribui à mão farta aos jornais, rádios e TVs de Pernambuco, fieis parceiros da “Nova Política”. O ofuscante reflexo disso é visto em generosas manchetes e fotografias risonhas e coloridas, entre uma tulha de outros afagos de edição. Agrados que permanecerão fieis, ao menos enquanto durar o voo da galinha.

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