Ocidental

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Pelo jeito vai morrer
Me disseram
Há uma semana que ficou amarela
E a barriga inchou muito e terminalmente

Também os animais de circo
De sua alma rebelaram-se
Se foram festejando em sambas
A liberdade

O trapezista ainda cambalhoteia
O ar
Tentando dar
Sentido
Ao estendido da lona
Precária em farrapos

Não há palmas e é assim
O fim
De todos nós

Disseram-me tudo isso mas não fui vê-la morrer
Ela tinha sido minha mãe
Louca, meretriz e decididamente mão

Ei li seus versos e li seus passos e avessos
Mas virei o rosto e quis ver a paisagem
Indiferente
Que continuava o mundo
Indiferente
Sem ela

Há coisa de uma semana ela amarela
Como jornais e aqueles volumes do capital

Eu me despojei de máscaras desertei
Não quero chorar
Embora lágrimas haja em anos mil

Pelo jeito vai morrer. Mas me recuso a sentir algo por isso

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