Os agiotas da rua do Bom Jesus

Até poucas décadas atrás, a rua do Bom Jesus, de frenético movimento dos comerciantes do atacado pernambucano, era mais conhecida como a rua da Putas. É que, no cenário noturno, o frenesi da rua era protagonizado por uma fauna bem definida: de um lado, ma

A rua já tivera outras denominações: da Cruz, dos Mercadores. Mas, ficaram firmadas no consciente coletivo da cidade suas denominações mais populares: rua da Putas e rua dos Judeus. Ali, a maioria dos comerciantes era de judeus, cuja presença histórica está fincada em um dos edifícios da rua, construído sobre os alicerces da primeira sinagoga construída no Novo Mundo. Os pernambucanos aprenderam a questionar se houve benefício na expulsão dos holandeses: foi quando os judeus, expulsos daquela rua, fundaram Nova Amsterdã, rebatizada pelos ingleses com o nome de Nova Iorque.


 


 


A ligação quase umbilical das ilhas de Manhattan e do Recife antigo, permite ao inconsciente do antigo adolescente pernambucano uma incontornável analogia entre a rua do Bom Jesus e a rua que se tornou o centro mundial do capitalismo moderno: Wall Street. A rua dos negócios dos papéis, das mercadorias, da especulação, da cobiça sem limite e sem regras. Atividades eticamente comparáveis às dos maloqueiros da rua das Putas, da agiotagem e do jogo de fazer dinheiro fácil.


 


 


Diariamente, aprende-se no Bom-dia, Brasil! muita coisa sobre a crise gerada pelos especuladores de Wall Street e sobre seus desdobramentos no mundo e no Brasil. Mas, deve-se precaver com a leitura das entrelinhas e a interpretação daquilo que mais se assemelha uma torcida contra o Brasil, como parece mostrar os textos matutinos da Rede Globo de Televisão. Tudo sob o aval da esperta Míriam Leitão ou de um ou outro “especialista” na área, quase sempre os mesmos. Colonizados e submissos, não fazem nenhuma avaliação crítica marcante sobre o banditismo financeiro que gerou a atual crise.


 


 


Preferem fazer coro com manjados executivos das finanças, os especuladores locais, a alardear sobre a chegada da crise ao Brasil e sobre as medidas que o governo deveria tomar, sempre “insuficientes” ou “atrasadas”. Mesmo conscientes de que o pânico na bolsa de São Paulo decorre da debandada do capital especulativo, que saiu a tapar buracos financeiros em suas origens. Mesmo sabendo que o Brasil está preparado com reservas para enfrentar os dias difíceis que se anunciam. Diferentemente de outras épocas em que a economia do Brasil sofria interferência do FMI e era movida pelo aumento da dívida com credores internacionais. Os agiotas da rua do Bom Jesus.

As opiniões expostas neste artigo não refletem necessariamente a opinião do Portal Vermelho
Autor