Os três ciclos históricos da esquerda e os golpes da direita

Após mais uma derrota do governo Dilma no senado e o golpe do impedimento sem crimes confirmado pelo Supremo Tribunal, é hora de todos que fazem parte do campo progressista repensarem uma série de coisas.

Escrever no calor das emoções é sempre algo tenso, assim como é frustrante comentar depois da tragédia anunciada se consumar. Todavia, optei por refletir sobre o crescimento que historicamente a esquerda teve no Brasil e como a direita conservadora sempre usou de armas parecidas para deter os avanços sociais.

A primeira onda de ascensão da esquerda se deu nas eleições de 1945, quando o Partido Comunista do Brasil, que então usava a sigla PCB, elegeu 14 deputados federais, um senador (Luis Carlos Prestes) e com um candidato menos conhecido (Yedo Fiúza) alçou 10% dos votos válidos.

Com a enorme votação da esquerda e com o Partido Comunista do Brasil sendo a quarta maior agremiação partidária no país, a perseguição ao então PCB começou logo após a posse do novo presidente, Eurico Dutra, em 1946. Centrais sindicais foram fechadas e militantes perseguidos até culminar em uma lei aprovada no Congresso, em janeiro de 1948, colocando novamente o PCB na ilegalidade (como fora no governo Vargas) e caçando todos os parlamentares eleitos pela sigla.

Ou seja, de maneira golpista, simplesmente pelo temor do crescimento do campo popular, expurgaram dos legislativos os parlamentares eleitos democraticamente nas eleições diretas de 1945. Não parece algo familiar com o que estamos vendo?

Seguindo em frente, na primeira metade da década de 1960, novamente o campo de centro esquerda, agora englobando também os trabalhistas, começa a ameaçar a plutocracia comandante do país.
Com a UNE volante rodando pelo país e pautando uma reforma universitária inclusiva, as Ligas Camponesas elegendo seu primeiro parlamentar estadual e depois federal (Francisco Julião em 1954 e depois 1962), governadores progressistas como Leonel Brizola (RS) e Miguel Arraes (PE), a tentativa do legislativo de não dar posse ao vice-presidente João Goulart (Jango) não foi possível, com este assumindo o comando do país em setembro de 1961.

Apesar do isolamento político do Partido Comunista, que não apoiava Jango, mesmo na ilegalidade a agremiação seguia crescendo, influenciando o movimento sindical e estudantil e recrutando figuras importantes para o seu crescimento ente os trabalhadores.

Ao mesmo tempo, Jango que buscava instaurar reformas de base capazes de aprofundar a democracia e com propostas extremamente ousadas, como a reforma agrária, logo caiu no ódio da direita brasileira, agora já com propostas ainda mais liberais e tendo a impressa como sua aliada de peso.

Temendo as propostas avançadas do presidente, somado ao seu carisma entre as massas, apoio da maior parte dos movimentos sociais e de governadores importantes, os militares escreveram a página mais sombria de nossa história, dando um golpe de estado e assumindo o poder em 31 de março de 1964, o tal dia que durou 21 anos, tendo em vista a longevidade da ditadura fascista e que, mais uma vez, interrompeu o segundo ciclo de crescimento da esquerda brasileira.

Com a redemocratização em 1985 e os partidos novamente legalizados, a esquerda agora se dividia em mais agremiações políticas, dificultando o debate programático e a unidade de ação, afinal de contas, mesmo tendo várias siglas satélites, a direita não tem dúvidas e nem briga entre ela, sabe muito bem como e onde seguir (lição que a esquerda ainda teima em não aprender).

Acumulando forças e ampliando o leque de alianças, a centro esquerda conseguiu eleger o primeiro presidente operário em 2002 (Lula, do PT), reelegê-lo em 2006 e depois fazer sua sucessora, Dilma Rousseff tanto em 2010 como em 2014.

Entretanto, a eleição de 2014 teve um fator fundamental: juntamente com a eleição de uma ex-combatente da ditadura militar, vimos um Congresso extremamente conservador vencer a disputa no legislativo, comprometendo desde o início o segundo mandato da presidenta.

Após praticamente um ano e meio de disputas e guerras políticas, novamente os conservadores impõem, juntamente com um judiciário de índole duvidosa, o início do fim do terceiro ciclo progressista de centro esquerda no país. Como das duas outras vezes, “se não vai no voto, vai na marra”, golpeando sem base jurídica firme a democracia brasileira, algo parecido com a cassação dos mandatos comunistas em 1948, mas sem a mesma violência de 1964.

É preciso observar como os ciclos se repetem 1948, 1964, 2016: toda vez que o campo popular teima em avançar, os conservadores armam um jeito de derrubar aqueles que foram legitimamente eleitos pelo povo. Muito triste concluir que, mais uma vez, com a ajuda da mídia, a direita vence mais uma importante batalha.

Entretanto, uma guerra não termina com a perda de uma batalha, é preciso ser forte, estudar, não cometer os mesmos erros e voltar com tudo para os movimentos sociais (onde a esquerda sempre foi forte), pois na hora “H”, só ela e alguns parlamentares oriundos destas bases dão a cara à tapa para defender o projeto popular.

Sigamos em frente resistindo, agora com a perda de espaço na luta de posições, mas atentos que a única luta que está perdida é aquela que se abandona.

Avante!

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