Ousadia e amplitude pela democracia
A marcha golpista chega ao auge. O grampo da conversa entre a presidenta Dilma e o ex-presidente Lula, irresponsável e absurdamente divulgado pelo delegado Moro e reverberado à exaustão pela Rede Globo e congêneres, tem a clara intensão de botar gente na rua para pressionar pelo impeachment. De quebra, desgastar o presidente Lula, que a direita teme como hipotético adversário no pleito de 2018.
Publicado 17/03/2016 14:37
O "crime de lesa-Pátria" – na expressão do ex-presidente da OAB, Marcelo Lavenére – praticado pelo juiz Moro, ontem, é o estopim da elevação do nível da luta.
Concomitantemente, a assunção de Lula à chefia da Casa Civil (portanto ao núcleo político que assessora diretamente a presidenta Dilma), renova as expectativas de um ajuste na agenda política e econômica do governo.
Já não há mais condições nem tempo para a repetição de atitudes dúbias diante das agressões de Moro e asseclas, a título de uma desfibrada conduta "republicana", eufemismo para a tibieza do ex-ministro José Eduardo Cardoso, da Justiça; nem para vacilações dos movimentos sociais – enredado em pautas setoriais e corporativas – em resistir ao golpe.
A hora é de decisão. Impedir que se consuma o golpe é preciso, seja derrotando o pedido de impeachment, seja arrostando a via do TSE. Em ambos os casos falecem razões factuais e jurídicas que incriminem a presidenta Dilma. A peleja é estritamente política.
No curso da luta política, muitas vezes uma situação adversa se altera em razão de erros táticos do inimigo.
A divulgação do grampo, ontem, à semelhança da condução coercitiva de Lula dias atrás, ao arrepio da legislação processual e da Constituição, provocaram tamanha indignacao em amplos segmentos do mundo jurídico, da intelectualidade e do mundo da cultura, que, associando-se ao revide dos movimentos sociais, podem ampliar as condições da resistência.
As manifestações que acontecerão nesta sexta-feira poderão expressar essa conjugação de polos de luta.
Assim, aos que sempre se bateram pela democracia e pelos direitos do povo – a exemplo do PCdoB, que jamais se deixou vencer pelas dificuldades e tem o dom de se agigantar nas crises – cabe combinar firmeza de propósitos, clareza de rumos e amplitude na arregimentação de forças.
A luta imediata ultrapassa as fronteiras do governo Dilma. É sobretudo pela preservação do Estado de direito, contra a ameaça fascista. Pode unir segmentos os mais diversos, entre os que apoiam e os que não apoiam o governo.
Preservar a ordem democrática, superar a crise de governabilidade e pactuar medidas destinadas a retomar o crescimento econômico podem lastrear uma plataforma mínima imediata em favor do Brasil.
É na amplitude e na pluralidade que as posturas mais aguerridas encontrarão graduada e apoio. Sem sectarismos, nem preconceitos.
Integra o manancial teórico e tático do PCdoB, construído mormente do início dos anos sessenta em diante, a consigna "ampliar radicalizando, radicalizar ampliando". Isto quer dizer que na luta atual há lugar para todos, para além de divergências conceituais, políticas e de interesses sociais díspares.
Quer dizer também que é possível sermos ousados, respeitando, contudo, a plataforma que venha a ser pactuada e o nível real da combatividade, a ser traduzida em formas de luta adequadas.
Nas ruas e nas redes, impõe-se a batalha assentada em argumentos fundamentados, despida de provações inúteis; e ao mesmo tempo irreverente, bem humorada e esperançosa, ao jeito próprio de quem luta com a convicção e a confiança de que é possível vencer.