Para além do minimamente razoável 

O apoio parlamentar fluido e traiçoeiro ao governo Lula não funciona, ainda mais com uma elite dominante que trabalha continuamente para enfraquecer o presidente

Foto: Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados)

O ponto de partida foi a votação do requerimento de urgência ao projeto do decreto legislativo que derrubaria o novo decreto do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras), editado pelo presidente da República uma semana antes. Porém, a sanha fisiológica da maioria parlamentar conservadora na Câmara dos Deputados impôs mais uma derrota contundente ao governo.

Integrantes de partidos que ocupam 12 ministérios — União Brasil, PP, Republicanos, MDB, PSD, PDT — se somaram à direita.

Essa aparente incongruência nem é novidade nem cessará a partir de agora. Faz parte de uma correlação de forças evidentemente desconfortável para o governo. Ao que se acrescenta uma cobertura midiática absolutamente tendenciosa e destinada a enfraquecer o presidente Lula, mirando 2026.

Mais ainda, tão nocivo comportamento de parlamentares de siglas aparentemente aliadas — diz-se — também tem a ver com a insatisfação em relação ao que consideram morosidade na liberação das malfadadas emendas ao Orçamento.

Não há como minimizar o episódio. Uma vez mais fica escancarado que governar contando com o apoio parlamentar tão fluido e traiçoeiro, e, ao mesmo tempo, sem a solidariedade ativa de ampla base social, não funciona. 

Tudo a ver com os números negativos recolhidos nas mais recentes sondagens de opinião pública. 

E também com o jogo de forças em curso no qual pontifica o esforço da elite dominante em enfraquecer continuamente o presidente e o governo, conter a extrema direita às voltas com o desgaste do bolsonarismo e viabilizar uma candidatura presidencial de centro-direita eleitoralmente competitiva. 

Ao governo está mais do que comprovado que, circunscrito a esse jogo de forças indigesto na relação com o parlamento, inevitáveis são as fraturas administrativas e políticas e profundamente negativa à percepção da chamada opinião pública, mal informada e sujeita a um tremendo bombardeio midiático e das ditas redes sociais. 

Melhorar a comunicação do governo? Sim, é importante e indispensável. 

Porém é preciso, uma vez mais, que se compreenda a absoluta necessidade de alteração na conduta política do próprio presidente e das correntes populares e progressistas que integram a frente ampla que governa. 

Urge superar a relativa letargia que não enfrenta o debate sobre questões essenciais postas na base do conflito com a oposição, em que tudo parece girar em torno de uma queda de braços entre o mercado financeiro e o governo, disputando quem se mostra mais capaz de assegurar o equilíbrio fiscal. 

Aí reside a própria negação da plataforma de reconstrução nacional com a qual se elegeu o presidente Lula. 

Reagir é preciso. No discurso e na efetiva mobilização social.

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