Para além do minimamente razoável
O apoio parlamentar fluido e traiçoeiro ao governo Lula não funciona, ainda mais com uma elite dominante que trabalha continuamente para enfraquecer o presidente
Publicado 19/06/2025 10:45 | Editado 19/06/2025 10:46

O ponto de partida foi a votação do requerimento de urgência ao projeto do decreto legislativo que derrubaria o novo decreto do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras), editado pelo presidente da República uma semana antes. Porém, a sanha fisiológica da maioria parlamentar conservadora na Câmara dos Deputados impôs mais uma derrota contundente ao governo.
Integrantes de partidos que ocupam 12 ministérios — União Brasil, PP, Republicanos, MDB, PSD, PDT — se somaram à direita.
Essa aparente incongruência nem é novidade nem cessará a partir de agora. Faz parte de uma correlação de forças evidentemente desconfortável para o governo. Ao que se acrescenta uma cobertura midiática absolutamente tendenciosa e destinada a enfraquecer o presidente Lula, mirando 2026.
Mais ainda, tão nocivo comportamento de parlamentares de siglas aparentemente aliadas — diz-se — também tem a ver com a insatisfação em relação ao que consideram morosidade na liberação das malfadadas emendas ao Orçamento.
Não há como minimizar o episódio. Uma vez mais fica escancarado que governar contando com o apoio parlamentar tão fluido e traiçoeiro, e, ao mesmo tempo, sem a solidariedade ativa de ampla base social, não funciona.
Tudo a ver com os números negativos recolhidos nas mais recentes sondagens de opinião pública.
E também com o jogo de forças em curso no qual pontifica o esforço da elite dominante em enfraquecer continuamente o presidente e o governo, conter a extrema direita às voltas com o desgaste do bolsonarismo e viabilizar uma candidatura presidencial de centro-direita eleitoralmente competitiva.
Ao governo está mais do que comprovado que, circunscrito a esse jogo de forças indigesto na relação com o parlamento, inevitáveis são as fraturas administrativas e políticas e profundamente negativa à percepção da chamada opinião pública, mal informada e sujeita a um tremendo bombardeio midiático e das ditas redes sociais.
Melhorar a comunicação do governo? Sim, é importante e indispensável.
Porém é preciso, uma vez mais, que se compreenda a absoluta necessidade de alteração na conduta política do próprio presidente e das correntes populares e progressistas que integram a frente ampla que governa.
Urge superar a relativa letargia que não enfrenta o debate sobre questões essenciais postas na base do conflito com a oposição, em que tudo parece girar em torno de uma queda de braços entre o mercado financeiro e o governo, disputando quem se mostra mais capaz de assegurar o equilíbrio fiscal.
Aí reside a própria negação da plataforma de reconstrução nacional com a qual se elegeu o presidente Lula.
Reagir é preciso. No discurso e na efetiva mobilização social.