Para desconstruir o ódio

Durante anos a grande mídia brasileira e setores da elite nacional, agora apoiados pela instantaneidade das redes sociais, vem construindo a pedagogia do ódio no país. Ampliando com muita força um pensamento já retratado por Gilberto Freyre, quando caracterizou a escravidão brasileira pelos “bons senhores e escravos submissos” (parafraseando Clóvis Moura).

O discurso de que só temos corrupção no país é apenas o pano de fundo de uma construção que quer dividir a nação entre dependentes do governo e os que supostamente pagam a conta ou são senhores da informação.

O resultado da eleição, a derrota dos que se sentem comandantes de uma opinião e só a deles vale, não a da maioria da nação (já que se o problema fosse realmente a corrupção, jamais votariam no Aécio -com seu aeroporto, mensalão mineiro- ou reelegeriam Alckmin -com seus metrôs-, etc. Não continuariam admirando o Lerner ou o FHC, com tantos e tantos escândalos nunca esclarecidos), só deixou mais corajosos aqueles que sempre carregaram o preconceito arraigado e regado pela pedagogia do ódio construída paulatinamente.

É preciso desconstruir essa pedagogia do ódio. E isso é uma tarefa militante e educativa que não se faz com o simples enfrentamento no campo das ideias (estamos diante de um diálogo onde só ouvem o que querem ouvir) ou transformar o ódio em uma guerra maior ainda, com o chamado “retruque à altura”. Mas só com amor e compreensão também não resolveremos.

Também não adianta explicar que a Dilma não teve só voto no Nordeste, que ganhou no Rio, Minas e que parte do povo do Sul e de São Paulo também votou. E que o Nordeste vota em peso não porque é refém do PT (se fosse assim o PT ganharia todos os governos dos Estados daquela região), mas porque foi esse governo que colocou a maioria do povo nordestino na lista de cidadãos brasileiros (é a região que mais cresce economicamente no país e a que mais deu saltos na área educacional).

Para desconstruir a pedagogia do ódio, é preciso do governo federal mais ação de inclusão, para que mais pessoas alcancem a classe média e sejam exemplos de que é bom para todos que as pessoas melhorem. Que as periferias do Sul e Sudeste sejam cada vez mais incluídas, tenham cada vez mais projetos habitacionais, mais Pronatec e mais programas de saneamento básico. É preciso mais cultura, mais esporte, mais saúde, mais ciência, mais inclusão digital, mais lazer…

Que haja todos os investimentos previstos na educação, para que os professores, bem remuneradores, digam aos filhos desta geração que acha que sustenta um monte de miseráveis, que mesmo numa sociedade capitalista, a divisão justa de renda no país melhora a vida de todos, inclusive a deles.

São necessárias as reformas estruturais que tanto defendemos, principalmente a política e a tributária. Se não ampliarmos a democracia, reduzindo o poder econômico das campanhas, permitindo mais diversidade na representação política, não desconstruiremos o ódio e nem combateremos a corrupção oriunda destes processos eleitorais comandados pelo poder econômico.

Sem reforma tributária não retomaremos o desenvolvimento que o país precisa para incluir ainda mais gente, melhorar ainda mais o poder aquisitivo do trabalhador e não resolveremos o problema da dependência dos Estados e Municípios da União.

É preciso incluir na pauta uma reforma do judiciário, urgente. De nada adianta a Polícia Federal ter autonomia para investigar crimes de corrupção ou para as outras polícias investigarem outros crimes, se continuamos convivendo com coisas arcaicas como o inquérito policial e com processos intermináveis que sempre deixam a sensação de impunidade.

Enfim, para unir o país, desconstruir o ódio, como sabiamente propôs Dilma em seu discurso da vitória, se faz necessário mais governo e a maioria do povo brasileiro votou no projeto que ela representa, porque já mostrou que é capaz de fazer isso.

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