Pernambuco em chamas – A Pedrosada (resenha – 2ª parte)
Publicado 21/10/2010 20:00
Por ter participado da Revolução de 1817, Gervásio Pires foi condenado a 4 anos de prisão, cumpridos na Bahia. O fato curioso é que, conforme os autores, não pronunciou uma palavra durante o confinamento – daí o apelido de Mudo. Em que pese ter sido considerado um governante fraco, Pires, na liderança da Junta Governativa, não conteve os sentimentos antilusitanos em Pernambuco. Frente às hostilidades entre proprietários de engenhos e comerciantes portugueses, decide pela retirada das forças militares. Franca rebeldia, posto que são destruídas as fortificações levantadas pelo antigo governador, Rego Barreto.
Isto, reconhecendo D. Pedro chefe do Executivo no Brasil mas sem vínculo com Portugal. À Corte parece, contudo, que a Junta local defende ideias republicanas. José Bonifácio de Andrada e Silva é hábil articulador da Independência, inda que defenda a administração monárquica dirigindo um Brasil unitário. Conspira para depor Pires.
O estopim foi o Grito do Ipiranga. O capitão Pedro da Silva Pedroso, governador das armas, encabeça o levante que se conhece como Pedrosada. Pires, conforme os revoltosos, enviara ofício a D. Pedro censurando a tropa e o povo amotinados. Com prestígio entre o povo, Pedroso obriga Gervásio Pires a embarcar para o Rio de Janeiro. Pires desembarca na Bahia, é preso e remetido a Portugal para responder a processo pelos atos de rebeldia.
É eleito o Governo dos Matutos, assim chamado por conter proprietários rurais. Pedroso fica no comando das armas, graças ao apoio de batalhões populares. No governo há morgadistas e republicanos. Os primeiros defendem a propriedade para o filho primogênito, alinham-se com D. Pedro. Os segundos pregam a separação de Pernambuco. Pedroso, mulato, tem o apoio dos Monta-brechas, tropas de negros; e dos Bravos da pátria, militares mulatos. Suspeita-se que Pedroso quer reproduzir o que ocorrera no Haiti, onde negros e mulatos tomaram o poder. Insuflados pelo chefe, negros e mulatos chamam os brancos de caiados. A trova dizia: Marinheiros e caiados/Todos devem se acabar/Porque só pardos e pretos/O país hão de habitar.
Com a prisão de um oficial a ele ligado, Pedro da Silva subleva Brechas e Bravos – 3º e 4º Batalhão de Milícias. Oito dias de sedição nas ruas do Recife, de 21 a 28 de fevereiro de 1823. Derrotados os rebeldes, Pedroso é preso e enviado ao Rio de Janeiro. O arroubo generoso perde para a aristocracia canavieira. A instabilidade continua. O governo é presidido por Manuel de Carvalho Paes de Andrade, egresso da Revolução de 1824. Andrade declara Pedro I traidor. É lançada a Confederação do Equador.