Perplexidade atroz

Anteontem à noite, num programa de entrevistas transmitido em cadeia nacional, uma repórter da CBN tentou por todos os meios arrancar de um “cientista político” uma explicação plausível para o que ambos consideram um fenômeno incompreensível – a ausência

O entrevistado até que balbuciou algumas tentativas de explicação, perdendo-se entretanto em evasivas. Enquanto a repórter, dizendo-se perplexa, não mais do que repetia: “É incrível, é incrível…”. 


 


Carentes de argumentos, ambos, terminaram por concluir que o motivo de tamanha indiferença (sic) popular estaria no fato de que a maioria da população não viaja de avião.


 


Que apenas uma parcela diminuta da população se desloca por via aérea é fato inequívoco. O que não significa dizer que a maioria esteja desatenta à crise dos aeroportos e ao desastre de Congonhas, tema central do noticiário de todas as mídias.


 


 


Mas o que a repórter e o “cientista político”(assim chamado provavelmente por ter cursado a disciplina de ciências políticas em alguma Universidade) talvez não saibam é que o povo costuma se movimentar basicamente pelas coisas que dizem respeito às suas condições de existência; e, em alguns casos, em protesto contra governos que ignorem seus interesses e necessidades fundamentais.


 


 


Teria o povo brasileiro, hoje, motivos para atender aos apelos de oposicionistas de diversas cepas e ganhar as ruas contra o governo Lula?


 


 


Certamente não. Para exigir maior celeridade nas mudanças, sim. Para criticar medidas que lhe desagrade, idem. Mas para derrubá-lo, como gostariam oposicionistas à direita e à “esquerda”, não. Porque, apesar de obstáculos macroeconômicos e mesmo de vários equívocos do governo, as atividades produtivas seguem a tendência de aquecimento, aumenta a oferta depostos de trabalho e se expande o consumo.


 


 


Basta que se considere, por exemplo, o uso de energia elétrica que no conjunto do país, no mês de julho, cresceu 4% (7,6% noNordeste), impulsionado pelas demandas industriais e, em grande parte, pelo consumo doméstico – um dos indicadores do aumento da renda familiar.


 


Nos cinco primeiros meses deste ano, 1,7 milhão der novos consumidores domésticos se incorporaram ao mercado, enquanto a indústria ampliou o seu consumo em 4,2%.


 


Diante de dados como esses, a perplexidade da repórter e do“cientista político” se revela atroz.

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