PMF: o retorno da censura à imprensa em Fortaleza

O assunto que dominou o mundo em fevereiro de 1972 foi a viagem de Richard Nixon à China, primeira de um presidente norte-americano àquele país depois da vitoriosa revolução de 1º de outubro de1949. Na época, esse fato histórico foi comparado ao primeiro passo do homem na lua. Foi também a mais longa viagem de um presidente ianque a outro país – sete dias.

Dada a importância do fato e como a velha mídia brasileira omitiu muitos detalhes da viagem, eu resolvi produzir o programa do MEB-Fortaleza do dia 29 de fevereiro, na Rádio Assunção Cearense, então pertencente à Arquidiocese de Fortaleza, justamente para mostrar aos ouvintes o que representava o fato e mostrar um pouco da cultura chinesa.

Produzido o programa, encaminhei o script à Divisão de Censura da Polícia Federal para liberação – na época todo programa de rádio e televisão tinha de passar pelo crivo da censura federal. Qual foi minha surpresa, ao invés de liberar o programa o temido delegado Laudelino Coelho mandou quatro brutamontes me levarem preso. O programa não foi ao ar, claro, sendo o horário ocupado por música. O ditador de plantão era Emílio Garrastazu Médici, o mais sanguinário de todos. Foi a minha primeira prisão durante a ditadura militar.

A Constituição Federal de 1988 pôs fim definitivamente à censura no Brasil. Mas, por incrível que pareça, a censura retorna ao rádio cearense em 26 de outubro de 2012, dois dias antes da eleição para prefeito, em segundo turno, por iniciativa, pasmem, da Prefeitura Municipal de Fortaleza. Nesse dia, para minha tristeza, pela segunda vez, depois de 40 anos, o meu programa, agora na Rádio Cidade de Fortaleza, deixou de ir ao ar por exigência dos censores da administração Luizianne Lins que alegaram que o programa do dia 24 fez propaganda do candidato Roberto Cláudio (PSB) à Prefeitura. Pura mentira. O que foi dito, e que contrariou os censores da Prefeitura, foi a inauguração de mais um trecho do Metrofor pelo governo do Estado. Todos os jornais do dia noticiaram o importante fato. Os CDs com a cópia dos programas dos dias 24 e 26 de outubro encontram-se no Sindicato dos Jornalistas para quem quiser ouvi-los.

Em artigo na última sexta-feira, no O Estado, o jornalista Demétrio Andrade, coordenador de comunicação da PMF, deturpa o que afirmei, omite a censura imposta pela administração municipal de Fortaleza e diz: “Informo ao jornalista, que se diz de esquerda, mas apoiou uma candidatura contra o PT na capital,…” Quer dizer que quem votou nos candidatos Heitor Férrer ( PDT), Roberto Cláudio (PSB), Raimundão (PSTU), André Ramos (PPL), Renato Roseno (PSOL) e Inácio Arruda (PCdoB) é de direita? Só é de esquerda quem votou em Elmano de Freitas, do PT, imposto pela prefeita? Quanta pretensão! Quanta hipocrisia!

Justamente por ser de esquerda é que não votei no candidato do continuísmo de uma administração dita de esquerda, mas com práticas as mais atrasadas de direita. Ou não é prática deletéria de direita diretor de escola do Município, sem qualificação, ser indicado por político? E o que dizer de diretor de posto de saúde e hospital, também sem a devida qualificação, ser indicado por político? E o pior de tudo – aliás não sei o que é pior – é distribuir centenas de terceirizados a vereadores em troca de apoio na Câmara Municipal. E obrigar esses terceirizados a fazer campanha nas esquinas – bandeiraços e adesivassos – e obrigar a votar e pedir votos para o candidato oficial é o quê? É ou não assédio moral? E tem mais, exigir dos agentes de trânsito um grande número de multas, como denunciou um deles durante a greve da categoria. Isto é ou não indústria da multa?

Como a Prefeita Luizianne Lins e o seu coordenador de Comunicação, Demétrio Andrade, ambos professores em curso de jornalismo, vão justificar para seus alunos que impuseram censura a um programa de rádio (democrático) e ainda exigiram que o programa fosse apresentado por um jornalista alinhado? É claro que os alunos vão tomar conhecimento. Sugiro que eles procurem no Sindicato dos Jornalistas os CDs com a cópia do programa do dia 24 de outubro, objeto do pedido de censura, e o do dia 26, apresentado por outro jornalista.

Muito triste. Uma lástima!

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