Porque DEM, e não Demo?

O PFL nasceu em 1985 como uma dissidência do PDS para apoiar Tancredo Neves. Um jogo de cartas marcadas para continuar no poder. Deixava o partido sucessor da velha Arena e seu sucedâneo como instrumento de sustentação política da ditadura militar e de de

No campo político-institucional, respaldou os atos da infame ditadura, como: o fechamento do Congresso Nacional, a prática institucional de prisão, tortura, assassinato e desaparecimento de patriotas e militantes políticos em todo o território nacional. Apoiou a censura à imprensa e à cultura; a perseguição e repressão aos movimentos populares e sindicais que lutavam por melhores condições de vida para os trabalhadores e suas famílias; a repressão à igreja e aos religiosos que lutavam em defesa dos direitos humanos.



A morte de Tancredo levou o PFL ao centro do governo José Sarney onde teve grande participação na ampliação do mandato presidencial para cinco anos. O esforço valeu ao pefelista Antonio Carlos Magalhães o Ministério das Comunicações, onde foi responsável pela farra de distribuição de concessões de rádio e TV e pela volta da velha subordinação ministerial aos interesses das empresas de Roberto Marinho. O contumaz fisiologismo ainda deu ao PFL importantes cargos nos governos de Collor e Itamar. Com este patrimônio político-institucional, participou da aliança que elegeu Fernando Henrique Cardoso em 1994 e em 1998. A posse de Lula em 2003 encerrou, finalmente, quase 40 anos de poder do pefelismo. 



O partido já começara a minguar desde 2002 quando elegeu apenas 4 governadores, contra 6 que elegera em 1998 e murchou para apenas um governador na eleição de 2006. Derrotado nos principais redutos pefelistas, como Bahia e Maranhão, e vendo encolher sua representação no Congresso Nacional, o PFL de hoje amarga uma profunda e humilhante crise. Falta-lhe projeto e uma liderança com brilho. E voto.



Os anos neoliberais produziram na América Latina significativa desnacionalização de empresas estratégicas, sob as lideranças de Fujimori, Menen e Fernando Henrique Cardoso. Algumas dessas empresas de fundamental importância para consolidação da soberania nacional. Nesse período, essa raça, para usar um termo do agrado pefelista, apoiou a farra tucana da privataria.



Assim, o Banestado foi vendido ao Itaú por 1 bilhão e seiscentos milhões de reais; o comprador ainda obteve um crédito fiscal de 1 bilhão e oitocentos milhões de reais. As dívidas com a União ficaram com o Estado. Outro exemplo clássico da farra: a privatização da Companhia Vale do Rio Doce. Empresa pública lucrativa e em permanente expansão. A empresa, avaliada em cerca de 60 bilhões, foi vendida por menos de 4 e paga com poucos meses do seu próprio lucro. Vários processos públicos contra a roubalheira tucano-pefelista se movem no Supremo a passos de tartaruga.



A agenda do Demo tem sido focada na defesa de empresas falidas, mediante perdões de dívidas fiscais, bancárias e sociais; rolagens de dívidas, a perder de vista; subsídios e favorecimentos diversos. Dizem ser “estímulos” à “competência” da gestão privada e chamam de “investimento”. Por outro lado, quando recursos são aplicados em políticas do interesse popular, chamam essa prática de “gastança” do governo ou, simplesmente “populismo”. Foi assim que os pefelistas do Demo se tornaram “heróis” da luta contra a CPMF: eram recursos destinados aos programas populares e sociais.



Não é por falta de razão ideológica que o demo-pefelismo desdenha a Reforma Agrária, o programa Bolsa-Família e o estímulo ao crédito popular. Desdenha a desoneração tributária que barateia a cesta básica, o material de construção, escolar e de informática. Combate essas e outras políticas de transferência de renda que permitiram nos últimos seis anos a saída de 20 milhões de brasileiros da faixa de miseráveis e fizeram outros 20 milhões de cidadãos migrarem das classes D e E para a classe C. E elevaram o Brasil, segundo as Nações Unidas, pela primeira vez, ao patamar das nações de elevado grau de desenvolvimento humano.



A opção de classe dos pefelistas do Demo é sua característica mais marcante. Numa quinta-feira de setembro de 2007, cinco senadores visitaram a fazenda Pagrisa, no Pará, que meses antes fora palco da maior libertação de trabalhadores escravos da história do país. Ao todo, 1.064 trabalhadores da lavoura de cana-de-açúcar foram resgatados pelo grupo móvel de fiscalização, formado por auditores fiscais, procuradores e delegados federais, que desde 1995 já libertaram mais de 26 mil pessoas do trabalho escravo. O Ministério Público abriu uma ação criminal contra a empresa e a Petrobrás deixou de comprar sua produção de álcool. Daí, a pressão da Pagrisa sobre o Senado e a ação imediata.



Liderando o grupo, a senadora demo-pefelista Kátia Abreu afirmou que a empresa “é muito bem administrada e forma uma comunidade de trabalhadores rurais”. Kátia é uma das maiores opositoras do combate ao trabalho escravo. Quando deputada federal, ela defendeu os produtores rurais flagrados cometendo este tipo de crime e atuou contra a aprovação de leis que contribuiriam para erradicar essa prática. (O relato é do jornalista Leonardo Sakamoto para a Agência Carta Maior).



A batalha de agora é contra os reajustes tributários que permitem ampliar a contribuição do hiper-lucrativo sistema bancário na recomposição da perda de recursos para a saúde pública. Uma vez mais, os pefelistas ficam do lado dos banqueiros contra os que mais necessitam. Seu caráter golpista, conservador e elitista rasga a máscara de democracia com que desejam ludibriar os brasileiros. Essa e muitas outras razões históricas e programáticas permitem afirmar que o partido ex-Arena, ex-PDS e ex-PFL é Demo por excelência, jamais DEM.

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