Pós-graduação stricto sensu à distância – um debate a ser enfrentado*

“Talvez o primeiro ponto seja a necessidade de qualificação docente.”

Imagem: reprodução/Anup

No cenário educacional brasileiro, a formação de professores é um elemento crucial para o desenvolvimento da qualidade do ensino. Nesse contexto, os programas de mestrado a distância emergem como uma ferramenta promissora para aprimorar a capacitação de profissionais que atuam na educação básica, trazendo junto diversos desafios a serem enfrentados.

Talvez o primeiro ponto seja a necessidade de qualificação docente. Diante disso, investir na formação continuada dos professores é um passo importante na busca por uma melhor educação básica (não é o único desafio, evidentemente). A possibilidade de cursar, por exemplo, um curso de pós-graduação stricto sensu a distância não deixa de ser uma alternativa viável, uma vez que muitos desses profissionais jamais poderiam entrar em tais cursos se não fosse através deste modelo.

O Brasil é um pais imenso e desigual, algo que contribui sobremaneira para isso são as nossas enormes barreiras geográficas. Em uma nação de dimensões continentais como aqui, oferecer oportunidades de formação a profissionais que atuam em regiões remotas torna-se fundamental. Além disso, esta modalidade de ensino promove a inclusão social ao possibilitar que professores em diferentes contextos socioeconômicos tenham acesso à educação de qualidade.

Outro ponto importante é a flexibilidade nos horários de estudo, o que é especialmente relevante para os docentes da rede básica, que enfrentam jornadas cada vez mais extenuantes. A possibilidade de conciliar a teoria adquirida nos estudos com a prática do dia a dia contribui para uma formação mais integrada e aplicável.

Apesar dos benefícios descritos, a implementação dos programas de pós-graduação stricto sensu a distância, em especial para os educadores das redes públicas, enfrenta desafios.

Talvez o primeiro deles seja exatamente a necessária infraestrutura tecnológica, ainda precária em algumas regiões, bem como a falta de familiaridade de alguns com as plataformas online, em especial os mais antigos.

Vale destacar também a necessidade de um suporte pedagógico eficiente. A ausência de interação presencial exige estratégias específicas para garantir a efetividade do processo de ensino-aprendizagem. A presença de tutores qualificados e a promoção de espaços virtuais de discussão são cruciais para a construção do conhecimento de forma colaborativa, sendo algo que precisa estar também presente nestes cursos.

Outro desafio, talvez um dos maiores, é garantir a sua qualidade de acordo com as regulamentações do Ministério da Educação e de seus órgãos, como o Conselho Nacional de Educação e a própria CAPES. Para isso, os critérios adotados precisam ser rigorosos e, em alguns pontos, similares ao que temos hoje para os mestrados profissionais. A credibilidade depende diretamente da seriedade com que serão conduzidos, tanto em sua implementação, como em seus processos avaliativos.

Manter os programas alinhados às demandas contemporâneas da educação é mais um desafio. É crucial que estes currículos estejam atualizados, incorporando as mais recentes tendências pedagógicas e tecnológicas, de modo a preparar os estudantes, em especial os professores da rede pública, para os desafios contemporâneos.

Um último ponto que vale pensarmos é o preconceito que existe, até hoje, com a educação à distância. Isso, inclusive, colabora para a falta de incentivos financeiros e políticas públicas específicas para estes cursos. Portanto, sua regulamentação de maneira séria é o melhor caminho para garantir sua qualidade, como dito acima. Negar as tendências da atualidade é dar brecha para que ocorra o que já acontece com muitos cursos de especialização, exatamente por esta falta de regulamentação específica. Ou seja, investir nesse modelo educacional requer um comprometimento tanto do poder público, quanto das instituições de ensino.

Em síntese, os programas de pós-graduação stricto sensu a distância podem vir a desempenhar um papel crucial na formação de professores do ensino básico no Brasil. Contudo, é imperativo superar vários dos desafios que existem para isso. Enfrentar o debate de maneira séria, responsável e madura é o melhor caminho para todos que atuam na área da educação. Negar o óbvio, em geral nunca é uma boa ideia, ou seja: ou a sociedade pauta o debate, ou será pautada pelos tubarões de ensino.

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