Quarenta anos do Clube da Esquina 2

As canções de Clube da Esquina 2 parecem ter sido escritas de forma atemporal, pois passados 40 anos se apresentam mais atuais do que nunca.

Encerrando a turnê que celebra os quarenta anos do lançamento do histórico álbum Clube da Esquina 2, Milton Nascimento e diversos outros músicos convidados emocionaram o estádio do Mineirão no último domingo. Em meio a uma época tão empobrecida da música popular brasileira, o show de Milton refresca a memória musical ao nos brindar com músicas que carregam em si múltiplos significados de um período conturbado de nossa história. As canções de Clube da Esquina 2 parecem ter sido escritas de forma atemporal, pois passados 40 anos se apresentam mais atuais do que nunca.

O final dos anos setenta no Brasil foi marcado por um processo de distensão lenta e gradual da ditadura que havia se instalado com os militares em 1964. É nessa onda de esperanças e de novas utopias que Milton Nascimento reúne em torno de si vários artistas para, após seis anos do lançamento do álbum Clube da Esquina em 1972, lançar o Clube da Esquina 2. Lançado em 1978 pela EMI-Odeon o disco duplo foi totalmente idealizado por Milton que retomava o projeto de 72. Nomes como Fernando Brant, Wagner Tiso, Marcio Borges, Ronaldo Bastos, Murilo Antunes, Lô Borges, Flávio Venturine, Tavinho Moura, Toninho Horta, Beto Guedes, entre outros destacados músicos, que posteriormente seguiriam carreira solo de sucesso, faziam parte desse time de estrelas.

No álbum duplo, temas sociais e políticos aparecem em canções como “O que foi feito devera/ O que foi feito de Vera” ou em “ Pão e Água”, a primeira imortalizada na voz de Elis Regina. Outra marca presente no álbum é a ligação do artista com os temas e o sentimento latino-americano. Canções como “San Vicente” e “Canción por la Unidad de Latino Americana” ilustram essa tendência. Além, é claro, da Bossa Nova, do Jazz e do Rock, que sempre influenciaram as composições do movimento cultural mineiro, que tinha nas esquinas do bairro de Santa Tereza, em Belo Horizonte, seus verdadeiros clubes sociais. Até mesmo o nome do movimento cultural revela-se como vanguardista, pois ao se chamar Clube da Esquina, reivindica os espaços urbanos como de apropriação de todos, especialmente para se produzir arte e se consumir arte, ao ar livre, nas calçadas e nas ruas.

O que realmente fez os 15 mil presentes ao show de Milton e de seus convidados se emocionarem, é que na cabeça de cada um passou um filme desses últimos quarenta anos do Brasil, um longo período de idas e vindas, de avanços e de retrocessos. A esperança que marcava aquele tempo e a desesperança que parece querer marcar os dias atuais. A indústria fonográfica brasileira promove atualmente uma música para um consumo de massas eivada de preconceitos, machismos, individualismo e consumismo. Tentam moldar o comportamento da juventude e cultivar valores estranhos à identidade nacional. A música brasileira, a exemplo das quatro décadas do Clube da Esquina 2, precisa resgatar sua qualidade e estar comprometida com as mudanças que o mundo exige. Precisa cantar a esperança, a paz, a solidariedade e descortinar o futuro.

Do show histórico no Mineirão, fica a certeza que os tempos bicudos que marcam o momento atual passarão, que a esperança vai vencer a escuridão e que os sonhos, assim como as utopias, nunca envelhecem.

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