Quem Bush culpará pelo fracasso no Iraque?

Os jornais desta semana noticiaram uma entrevista com o “líder” do Iraque, Nuri Al- Maliki, primeiro Ministro iraquiano, de linha xiita, onde ele afirma que as forças regulares do seu país já poderiam controlar a segurança interna e que as tropas american

Prossegue a instabilidade no Iraque


 


 


O Iraque é o único país do mundo cujo primeiro Ministro acha “normal” que todos os dias carros bombas explodam em diversos locais e, pela média, cem iraquianos morram nesses atentados. E afirma ainda que as forças regulares do Iraque, estimadas em torno de 250 mil homens, controlam o país e sua segurança interna, sem que fossem precisos os 160 mil soldados americanos.


 



O plano de Bush, adotado há uns três meses, de ampliar as forças terrestres, especialmente em Bagdá, não deu certo. Isso seria o início de um incremento de tropas, mas visando a desmobilização logo em seguida. Falhou completamente. A insegurança apenas aumentou. Se no início do ano quando da posse da maioria democrata na Câmara uma moção pela retirada das tropas em abril de 2008 foi aprovada na Câmara dos Deputados, tendo Bush que usar seu poder de veto, agora a coisa fica mais delicada pelo fato que vários senadores e deputados republicanos estão tendendo a votar pela retirada das tropas até no máximo em abril do ano que vem.


 



Isso seria um golpe profundo para Bush, que vive uma situação de imensa impopularidade. Devemos monitorar o comportamento da política externa da Inglaterra, com o novo primeiro Ministro Gordon Brown. Vários de seus ministros, especialmente o das relações exteriores, vêm manifestando certo desalinho e desacordo, ou seja, já não falam a mesma linguagem que George Bush. Isso não significa, claro, que os ingleses irão retirar as suas tropas de imediato, mas significa que vão, paulatinamente, se afastando da linha americana.


 



O mais interessante foi uma declaração esta semana do chanceler britânico, um dos mais jovens da história, afirmando que o mundo deveria caminha para a multipolaridade e não para ações unilaterais e isolacionistas. Isso foi um duro golpe nas posições do departamento de Estado dos Estados Unidos, pois havia muito tempo que isso não era ouvido na Casa Branca. Até Brown foi chamado à Washington para se explicar sobre tais declarações. Lembramos que os ingleses mantêm no sul do Iraque em torno de seis mil homens.


 



Em quem por a culpa?


 



O jornal The Washington Post especula esta semana sobre em quem Bush colocará a culpa, quem seria o “bode expiratório” sobre a iminente derrota que se aproxima das operações militares fracassadas no Iraque. Não pelo fato que se aproxime de quatro mil o número de soldados estadunidenses mortos em ataques no Iraque. Mas para salvar a vida política de Bush e dos republicanos, é preciso que alguém leve a culpa pelos erros e pelo fracasso e que isso não recai no presidente ou que nele recaia o mínimo possível (1).


 



Nesses quatro anos e pouco de ocupação militar americana no Iraque, passaram pelo comando central das forças aramadas americanas no país quatro generais de alta patente (três ou quatro estrelas). O atual, General David Petraeus, o primeiro fuzileiro naval a comandar o exército americano, talvez possa ser a “bola da vez”.


 



Esse general tem até o mês de setembro para divulgar um relatório seu detalhado sobre o balanço da ocupação, especialmente depois da ampliação das tropas. No entanto, esta semana já veio à tona partes de seu relatório e da avaliação do Departamento de Estado, do Serviço de Inteligência. E a questão é clara: os Estados Unidos estão perdendo a guerra. E o pior: não tem como vencê-la. Não há perspectivas de vitória e a saída a curto, médio ou a longo prazo será desgastante e um conflito imenso irá eclodir no Iraque, sem perspectivas de pacificação.


 



O general Petraeus é o primeiro dos quatro que passaram pelo Iraque em postos de comando a ter uma relação mais íntima com Bush e sua família. Todas as segundas-feiras, Bush e Petraeus fazem uma vídeo-conferência a sós, sem a presença de assessores de ambos os lados. Trocam confidências, avaliam desempenhos e traçam perspectivas. Poucos sabem o que falam.


 



Parte do relatório que a imprensa publicou esta semana dá conta de quem dos 18 grandes itens de objetivos traçados pelo comando da ocupação para o Iraque, praticamente nenhum deles foi atendido plenamente. Mesmo a tal democracia nos moldes ocidentais não vem dando certo no Iraque. Não há unidade política possível que possa trazer a paz a curto prazo no país. Pessoalmente, não vejo como a paz ser conseguida, com ou sem a presença americana no país. Só vislumbro, infelizmente, uma luta fratricida, violenta, uma verdadeira guerra civil sem fim.



Nota



(1) ver artigo intitulado “Bush culpará general se guerra fracassar”, de autoria de Thomas E. Ricks, publicado no Washington Posto e republicado no Brasil pelo Estadão do dia 16 de julho de 2007.

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