Quem é Rei há de ser sempre Majestade

*

– E aí, Pimenta, tudo em cima?


– Pimenta não, cara. Me chame de Pimentão.


– Oxente, homem, por que não posso te chamar de Pimenta?


– Porque eu não sou Pimenta, ora; eu sou Pimentão!


– Que Pimentão que nada, cara, teu nome mesmo não é Pimentel?


– No registro e no batistério é, sim, Aprígio da Silva Pimentel. Mas eu sou mesmo Pimentão, tudo mundo me chama assim.


– Que baboseira é essa, homem! Se o seu nome oficial é Pimentel, a gente devia respeitar o que está escrito e te chamar Pimentel.


– Baboseira coisa nenhuma! O Pelé mesmo não é Pelé no papel, quer dizer, no cartório o nome dele não é Edson?


– E então…


– Então nada. Vá chamar ele de Edson para ver se ele atende. Agora se disser Pelé, tudo bem, tá limpo.


– Mas Pelé é Pelé, pode se dar a esse luxo. É o Rei do Futebol.


– E daí? Ele foi o Rei do Futebol. Deixou de correr atrás da redonda, não é mais rei. É só Pelé.


– Se deixou de ser rei ou ainda é, pouco importa. E tu, homem, é simplesmente Aprígio da Silva Pimentel… e pronto!


– Tás enganado, amizade. Sempre fui e continuo sendo Rei, sim, de levantamento de copo. Pelé se aposentou, eu não.


– Tinha direito de se aposentar e, além disso, a idade chegou.


– Comigo não tem essa de idade não, nem de aposentadoria. Na minha especialidade continuo mais ativo do que nunca, taí o doutor Leopoldo pra confirmar.


– Ahn… (O doutor resmunga no canto da mesa, cara de quem já tomou mais do que devia).


– Doutor, diga aqui pro Geraldo, continuo em plena forma, ou não?


– Tá em forma, sim. Exames tudo tinindo, é saúde de menino, pode acreditar.


– Tudo bem que esteja em forma, mas quem disse que você é Rei desse negócio de levantar copo, quem te deu esse título?


– Poxa, Geraldo, estás renegando nossa turma? É nisso que dá o cara casar na Igreja e de papel passado. Abandona logo os amigos, desconhece até as qualidades da gente! Tá vendo, doutor?


– É, Pimentão, tu tens toda razão. Mas não é por isso que a gente vai dispensar a saideira, vai? – o velho médico agora participa da conversa.


– Claro que não. Garçom, bota mais uma rodada da branquinha que quem paga é aqui o Rei Pimentão, Primeiro e Único, soberano da turma do Bar do Badidiu!


– Tudo bem Majestade – agora é o próprio Badidiu que intervém – mas lembre que esse já é o sétimo “pendura” do mês e ainda tem a conta do mês passado e não fica bem para um Rei a fama de caloteiro, fica?


Todos de copo à mão, inclusive o renitente Geraldo, confraternizam, pois ninguém é de ferro e quem é Rei há de ser sempre Majestade.

As opiniões expostas neste artigo não refletem necessariamente a opinião do Portal Vermelho
Autor