Radicalizar na amplitude

A quem pode interessar táticas sectárias que isolem ainda mais a esquerda no campo político institucional? A quem serve o discurso de radicalização da luta política, agudizando o enfrentamento entre golpistas e não-golpistas?

Desobediência civil, boicote eleitoral ou rebeliões são alguns exemplos de práticas isolacionistas que, em um contexto de correlação de forças imensamente desfavorável – tal a que vivemos na atualidade – contribuirão para acentuar a escalada fascista que assistimos.

Pelo contrário, a história é prenhe de exemplos que nos mostram a necessidade de políticas e frentes amplas (e não apenas uma frente de esquerda) nos momentos de avanço das forças reacionárias. Todo e qualquer ato de estreiteza política nesse momento é jogar água no moinho do inimigo.

Não fosse o Pacto de Não Agressão celebrado entre URSS e a Alemanha nazista, os soviéticos não teriam tido a chance de se prepararem a tempo para a guerra e vencer Hitler e seus aliados. Não fossem as mais variadas formas de união nacional e frentes amplas em momentos decisivos de nossa história, tais como a expulsão dos holandeses, a abolição da escravidão, a criação da Petrobras, o enfrentamento à ditadura militar, a redemocratização ou a própria vitória de Lula em 2002, entre tantos outros exemplos, as forças conservadoras e invasoras teriam triunfado.
O que se impõe ao povo brasileiro é apenas um tipo de radicalização: a da amplitude.

Sermos amplos o suficiente para aglutinarmos amplos setores da sociedade que no passado se enveredaram pelo caminho do Golpe, mas que hoje sentem na pele seus efeitos devastadores na economia, na política e na tessitura social.

Sermos amplos o necessário para revisarmos nossas bandeiras de lutas mais atuais e imediatas daquelas que podem ser postergadas em um cenário mais propício às mudanças mais profundas.
Sermos amplos o essencial para expandirmos nossas formas de luta para além da esfera institucional, reconstruindo as bases dos movimentos sociais e intensificando o debate de ideias.

Sermos amplos o fundamental para abandonarmos todo e qualquer discurso capaz de segregar mais que agregar. É a Frente Ampla embalada ao som da Internacional: “Paz entre nós, guerra aos senhores”.

É justamente nesse sentido que propugna a nota intitulada “Ante ofensiva da direita, reagir com amplitude para enfrentar e vencer as eleições” aprovada pela Comissão Política Nacional do PCdoB.

A referida nota destaca a importância da “articulação das Fundações do PT, PDT, PSB, PCdoB e PSOL que conjuntamente estão debatendo um Manifesto programático em torno de alternativas para o Brasil”. É um grande alento.

Mais que isso, é fundamental expandirmos esse leque de articulações, incorporando setores mesmo do PMDB, da direita responsável, do empresariado produtivo e demais segmentos que podem marchar juntos na defesa da democracia e de uma pauta mínima pela retomada do crescimento.

O inimigo de classe, nesse momento, se articula como máfia togada, na mídia monopolista e no rentismo parasitário. Ou seja, um tripé de sustentação poderosíssimo que só poderá ser derrotado por meio de uma forma dialética: “ampliar radicalizando e radicalizando ampliando”.

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