Round 6 é um manifesto contra o capitalismo e a desumanização

Numa Coreia do Sul que abriga altos prédios e bairros pobres, no contraste forte marcado na bela representação da série, assistimos episódio após episódio o processo de endividamento de uma sociedade e o vale-tudo para romper com isso

Série "Round 6" I Foto: Divulgação

Os serviços de streaming trouxeram a possibilidade de globalização efetiva dos filmes e seriados, trazendo a pluralidade de enfoques e quebrando a hegemonia do formato estadunidense. As produções sul-coreanas tem conquistado o gosto dos brasileiros e da maioria do público mundial, embora sigam sem emplacar nos Estados Unidos, maior referência do capitalismo.

A vitória do filme Parasita no Oscar de 2020 na categoria Melhor Filme quebra a exclusividade dos filmes de Hollywood na premiação, além de jogar os holofotes para um estilo bastante presente nas produções sul-coreanas, com críticas à desigualdade de oportunidades, ao espírito predador do capitalismo e da desumanização em busca do lucro e da “vitória” na sociedade pautada por esse sistema a qualquer preço.

Round 6 vem na esteira de várias produções que se avolumam no serviço de streaming Netflix, chegou de maneira pouco alardeada, em dias se transformou em um sucesso. Numa Coreia do Sul que abriga altos prédios e bairros pobres, no contraste forte marcado na bela representação da série, assistimos episódio após episódio o processo de endividamento de uma sociedade e o vale-tudo para romper com isso.

Daí a premissa do jogo (sem dar spoiler) que reúne 456 endividados em 6 partidas, valendo uma fortuna que vai se acumulando a partir das mortes dos participantes. O episódio em que eles tentam desistir é revelador da sociedade em que estão inseridos e das desigualdades gritantes da mesma, um sistema que pratica violência dentro e fora do jogo, que não enxerga parte de seu povo. A representação dos personagens reúne as mais variadas facetas dessa Coreia: criminosos, operadores da bolsa, viciados em jogos e similares.

As ideias de Marx caem como uma luva para entender que em sociedades como a sul-coreana o aumento da riqueza de uns só é possível com a máxima exploração de outros, e esses ricos são poucos, já os miseráveis aumentam exponencialmente…

A pérola da série é o retrato da perda da humanidade das elites do país, que conseguem inclusive serem privadas do prazer e da diversão, fruto de sua desumanização. A isso Round 6 contrapõe a solidariedade que os menos abastados praticam, a preocupação com o outro, com a vida, entendendo as pessoas como seres humanos, singulares, ricos em vida, algo muito mais valioso que dinheiro.

Assista Round 6, seja surpreendido, e some-se aos que acreditam em dias melhores para nossa sociedade, aos que sabem que não podemos e não devemos ficar impassíveis diante das desigualdades e da violência cotidiana das elites contra o povo, não somos cavalos de corrida, utilizados para a diversão dos poderosos. Como dizia Che, se você treme de indignação cada vez que se comete uma injustiça no mundo, então somos companheiros.

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