Sinais que nos chegam do Oriente Médio

Semana passada, havíamos prometido voltar ao tema de Genebra 2 que começou com grande encenação e prosseguirá por mais alguns dias. Mas, o desfecho está dado e confirma o que prevíamos: vitória da Síria e de seu governo e desmascaramento dos chamados “rebeldes” apoiados pelas potências. Vamos ampliar a análise da região com comentários sobre outros países e situações no mundo árabe.

Já dissemos isso várias vezes e nunca é demais repeti-lo: não há uma revolução na Síria. Há uma invasão, uma agressão externa patrocinada por potências imperialistas e potências regionais, as petromonarquias. Não há “rebeldes” na Síria, muito menos “revolucionários”, como pensa uma certa “esquerda” brasileira. O que temos visto lá são terroristas e mercenários vindos de pelo menos 83 nacionalidades distintas.

Não há uma guerra na Síria, mas contra a Síria. E tenho convicção que por mais que possam eventualmente progredir as conversações patrocinadas pela ONU, o conflito não vai terminar. Até porque os EUA sabem que perderam completamente a guerra, que Bashar não vai cair e que ele será eleito novamente e de forma esmagadora, descomunal eu diria. Em eleições livres que devem ser convocadas para junho. Do que se trata então? Simples. Trata-se de destruir o que restou da infraestrutura do Estado sírio, do desmonte de seu governo e de suas instituições e tentar colocar de joelhos ante o mundo esse bravo e milenar país. Trata-se de tentar desmoralizar o presidente e ver se o povo se voltaria contra ele. Falhou. Tudo isso não deu certo.

Vamos a comentários gerais sobre diversos atores e países da região.

Genebra 2 – Foi tudo um grande jogo de cena. Mas precisava ser feito. O mundo está cheio de massacres, guerras e repudia a violência e as agressões que a Síria vem sofrendo. A máscara dos EUA já caiu faz tempo. O rei está nu. Não há mais como esconder: a aliança aberta com terroristas da Al Qaeda tomou rumos que ninguém controla. O grupo ganhou força e o fracassado Exército “Sírio” Livre dissolveu-se, desmantelou-se. Na prática quase nunca existiu. Era apenas uma peça de publicitária. Alguns “comandantes” foram forjados para darem “entrevistas” para redes mundiais de notícias, que nossa imprensa-empresa provinciana reproduz como se fossem verdades.

A tal Coalização Nacional Síria é também uma farsa. Foi formada pelos EUA, Arábia Saudita, Qatar e Turquia. E tinha simpatia de outros menos votados, inclusive Israel. Receberam total apoio. Bilhões de dólares, equipamentos, armamentos, sistemas de comunicação sofisticadíssimo que muitos vezes nem eles conseguem operar em campo. Receberam treinamento e abrigo nas fronteiras turca e jordaniana. Essa tal Coalizão é formada por grupos e claques que vivem no exílio. Não possuem sequer uma pessoa em território sírio. Não representam nada e ninguém na Síria. Representam apenas os que os financiam, seus patrões. E sentaram-se à mesa da Conferência da ONU como se fossem “um dos lados” do conflito. Um verdadeiro absurdo, aos olhos da lógica, da racionalidade e do direito internacional.

Ainda assim, o governo sírio enviou uma representação de altíssimo nível para Genebra, chefiada pelo ministro das Relações Exteriores, Walid Al Moallen. Seu discurso de 35 minutos foi duro, contundente, direto, emocionante. Mostrou o que realmente ocorre na Síria. Denunciou a agressão, a farsa. Apontou que a pauta da Conferência em curso deve ser uma só: a luta mundial contra o terrorismo, que se espalha por todos os países. Ninguém está imune a ser atacado, atingido por uma bomba.

A verdadeira oposição ao governo da Síria não foi chamada para Genebra 2. Esse é o verdadeiro absurdo dessa farsa dantesca. Ela se apresenta com o nome de Comitê de Coordenação Nacional para as Mudanças Democráticas e um dos seus líderes é Haytham Al Manna, do Partido Nacionalista Social Sírio, o PNSS. Os demais partidos que fazem oposição dentro da Síria ao governo do presidente Bashar Al Assad, integram a Mesa de Diálogo Nacional e sempre se colocaram contra a agressão externa, são contra pegar em armas e matar o povo e denunciaram a farsa. Mas, a imprensa-empresa não lhes concedeu uma linha sequer. Nós, que estudamos o OM, só travamos conhecimento sobre o trabalho dessa oposição, pelos blogs alternativos e pelas dezenas de artigos que nos chegam traduzidos pelos companheiros da Vila Vudu.

A opinião pública na Síria está francamente com o governo. O povo sírio repudia as agressões externas. Sabe que a luta será longa, mas tem demonstrado que quer enfrentar os desafios. Sabe do altíssimo custo da guerra, mas não tem medo de pagá-lo. E, a grande surpresa é que pela primeira vez o jovem presidente sírio admitiu que será sim candidato à reeleição nas próximas eleições. O mundo político sabia disso, mas ele nunca havia admitido.

O balanço que fazemos até agora é que fracassou o projeto imperialista para a Síria. Queriam dividir o país em três miniestados e foram derrotados. Estão agora apavorados com a possibilidade dos terroristas voltarem para seus países e praticarem atos de terror.

Por fim, como dissemos, o Irã foi o grande ausente presente. Ele estava lá. Emerge como grande líder regional. Seu presidente Hassam Rouhani esteve em Davos e mais uma vez falou ao mundo. E foi ouvido. Vem sendo cada dia mais ouvido. Ganha adeptos. Mostra que seu país quer o diálogo, quer energia nuclear pacífica. O Irã se fortalece a cada dia. Sua exclusão da Conferência foi um erro histórico da qual a Rússia, nossa aliada na Síria não deveria ter a aceitado jamais.

Há dois mitos que foram difundidos antes e durante a Conferência. O primeiro é que a proposta de Genebra 1, de junho de 2012, de que teria que se formar um governo de transição na Síria não havia sido implantada. Mentira. Quem governa a Síria hoje, sob a liderança do presidente Bashar é exatamente um governo de União Nacional com todos os 22 partidos existentes na Síria e não só os oito originais da revolução baatista de 1963.

O segundo mito é que a carta de Genebra 1 dizia que a transição na Síria não poderia incluir Bashar Al Assad. Em nenhuma linha daquele documento o nome do presidente tinha sido mencionado

Líbano – Segue sem governo há nove meses. O primeiro ministro Nagib Mikat renunciou, mas um novo gabinete não se formou ainda. Não se sabe quando ocorrerão eleições, mas fala-se em maio ou junho. O mandato do presidente Suleiman vence este ano.

A surpresa nesse cenário é que pela primeira vez desde que o Hezbolláh existe, o ex-primeiro Ministro Said Hariri declarou que estaria disposto a participar de um governo onde o Hezbolláh participasse. Um governo de união nacional. Isso é surpreendente, na medida que Hariri mantém fortes ligações com os EUA e Arábia Saudita. As coisas estão mudando. Também chegou-nos a informação que Walid Jumblatt, do Partido Socialista Libanês, que controla os votos oscilantes do parlamento libanês, após conversar com membros do governo da Arábia Saudita aceitou também participar desse novo governo de unidade nacional.

Foram retomadas depois de quase nove anos, as atividades do Tribunal Especial da ONU para o Líbano, que julgaria os acusados do assassinato de Hafic Hariri, ex-primeiro Ministro e pai de Said, ocorrido em 2005. Os dedos acusadores na época de imediato foram apontados para o Hezbolláh e para o governo sirio. Nada disso ficou provado. Esse crime tem as marcas e impressões digitais do Mossad de Israel para dividir o país. Esse Tribunal, que funciona em Haia na Holanda, voltou a funcionar e a julgar o caso Hariri exatamente quando Genebra 2 se inicia. Não há coincidência. É proposital para ampliar o clima contra a Síria.

Já se disse que quando o império estadunidense espirra o Brasil fica gripado. Eu comparo essa frase com o Líbano. Tudo que acontece na Síria, reflete profundamente na política libanesa. Até porque estes dois países já foram um só em tempos não tão ancestrais assim. Era a chamada Grande Síria, província do império Otomano.

Terrorismo internacional – Há várias organizações internacionais no mundo político. Os comunistas tiveram a sua Internacional. Os trotsquistas mantém ainda o que eles chamam de 4ª Internacional, ainda que completamente dividida. Existe a Internacional Socialista, da qual no Brasil o PT, PSB e PDT são filiados.

No entanto, é preciso registrar que uma nova organização internacional está atuando e já faz algum tempo. E é riquíssima. Eu venho chamando de Internacional do Terror. E tem na Al Qaeda a sua marca registrada, a sua grife. Mas, tem um grande financiador: a Arábia Saudita. Ela mesma. O protetorado estadunidense, a grande base militar dos Estados Unidos no mundo árabe e Oriente Médio é hoje a ponta de lança do terrorismo internacional.

Essa gente, que pratica costumes medievais de 500 anos atrás, quer a construção do Califado Islâmico. E seduzem jovens e adultos em todo o mundo. Querem um novo califa ou emir de todos os muçulmanos. Os sauditas irrigam essas organizações com seus bilhões de dólares. Eles atuam em vários países, aparecem com várias denominações. Matam indiscriminadamente. Não há critério. Matam civis inocentes, destroem edifícios públicos, pontes e estradas. Estão na Chechênia, no Japão, em vários países da Europa. Já praticaram diversos atentados em Londres, Madri, em Nova York. E vão continuar a fazê-lo. Não possuem nenhuma base de massa.

Pregam um mundo onde o Islã seja a única religião. Tal qual fazem na Síria, eles perseguem e matam que não seja muçulmano e sunita. Matam xiitas, alawitas, drusos, cristãos de todas as matizes, judeus, ateus. Nesse ponto eles não discriminam ninguém. Só os deles prestam. O resto é escória e tem que ser eliminado. Só para termos um exemplo, que a imprensa-empresa nunca divulgou, a única cidade que essa gente conseguiu ocupar na Síria em três anos de agressões, chama-se Raqaa. Pois nessa cidade, dominada pela Al Qaeda e sua filial síria, a Frente Al Nusra, a música foi proibida! Ninguém pode ouvir nenhum tipo de música, além do cantochão da declamação dos versículos do Alcorão. As mulheres são proibidas de sair às ruas e ficam prisioneiras nas casas. Imagina isso implantado em toda a Síria, mundo árabe e em todo o planeta!

Por isso, vai ficando claro a imensa contradição que vivem os Estados Unidos. Desde a derrubada das torres gêmeas em setembro de 2001 e a invasão do Afeganistão em outubro desse mesmo ano. Desde essa época eles vêm dizendo que “combatem o terrorismo”. Gastaram nessa guerra contra o povo pobre daquele país estimados dois trilhões de dólares. Mas, hoje fazem aliança, financiam, treinam todos os tipos de terroristas na Síria. A imprensa-empresa que os apoia abertamente chega a dizer que existem “grupos moderados rebeldes” (sic) que agem na Síria e esses é que os EUA apoiam. Pois os mais moderados que lutam contra Bashar e seu governo legitimo, comem fígados e corações de suas vítimas em frente às câmeras de TV.

Até quando o mundo assistirá impassível a tudo isso?

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