Solo: Nasce em São Paulo a Nação Hip-Hop da capital
A Nação Hip-Hop Brasil, realizou, no domingo, 20 de julho, um grande ato de lançamento da Nação Hip-Hop São Paulo, onde das 9 ás 22 horas estiveram presentes mais de 350 pessoas.
Publicado 01/08/2008 16:44
A capital de São Paulo se constitui em um local estratégico para organização do movimento, além de ser considerada o berço do hip-hop brasileiro, hoje ela conta com um estrondoso crescimento: são milhares de adeptos e simpatizantes do movimento, são manos e minas produzindo e criando arte nas mais variadas vertentes musicais, literárias, teatrais, grafitti, áudios-visuais, danças, ampliando para os esportes de rua – basquete, skate e rachão da várzea.
A criação da Nação capital está fundamentada na proposta de dar organicidade ao movimento, de forma que a arte contribua para dar voz as transformações sociais que queremos pras nossas quebradas.
Essa é a bússola que deverá orientar a direção municipal: “Ainda não está tudo dominado”. A arte tem que ser engajada, tem que dar conta de unir todas as quebradas deste mundão que é essa nossa metrópole. Temos que formar os “linhas de frente” dessa batalha que enfrentamos no dia a dia para ter o reconhecimento desta grande maioria que não é respeitada em seus direitos de pessoas, cidadãos e artistas.
“Um bom lugar se constrói com humildade!”, esta foi a mensagem que o primeiro presidente da então recém nascida Nação Capital mandou pra rapaziada, o apresentador do Espaço Rap há 16 anos na Rádio FM 105, Nuno Mendes. E é isso mesmo, o fortalecimento da organização tem que levar em conta o tamanho da cidade e a enorme demanda de atividades e necessidades. Cada posse/núcleo que compõe a organização serão “QG´s” que atuarão diretamente junto a rapa das regiões leste, norte, sul e oeste da cidade, tudo na base do respeito e da humildade.
O ato de lançamento foi nessa pegada, foi na real um espaço que vingou a democracia, com muito debate e participação. A atividade iniciou com a exibição do mais completo documentário brasileiro sobre o hip-hop, a produção do Toni C., o filme “É tudo Nosso” , seguido de um ampla análise da caminhada do hip-hop brasileiro a partir do tema “O Hip-Hop morreu?”. Um salve pra rapa que prestigiou com o rap da melhor qualidade: Ordem Própria, 9mm. Poesia do Gueto.
E pra finalizar fica aqui o documento oficial de criação da organização, o grito de guerra dus guerreiros que se alistaram nesse front de batalha que é a Nação Hip Hop Brasil São Paulo/Capital:
Nação Hip Hop Brasil-SP, São Paulo, 20 de julho de 2008- “ Capital É Nóis!”
O berço do hip hop no Brasil é São Paulo, onde surgiu com força nos anos 80, nos tradicionais encontros da rua 24 de Maio e do metrô São Bento. Naquela época o Brasil encontrava-se num cenário muito conturbado e efervescente: iniciava uma transição do Governo Militar,conhecido como os Anos de Chumbo, para a o Governo Democrático, ou seja estava sendo forjado a transição de uma forma de governo onde era mínima (ou nenhuma) participação do povo para uma forma de governo onde o povo poderia escolher por quem seria governado.
Essa pressão por mudanças pôde ser visto na própria caminhada inicial do movimento hip hop. Nos primeiros anos da década de 80, onde a repressão sempre achava uma forma sangrenta de acabar e inibir qualquer forma de expressão popular, aqueles jovens da periferia não se intimidaram, não se esconderam e muitos menos se calaram, enfrentaram todas as dificuldades da época para praticar e divulgar a cultura Hip Hop. Foram esses guerreiros que abriram as portas para o que hoje se vê em todo território brasileiro, do Oiapoque ao Chuí: grafiteiros e grafiteiras, dj´s, b.boy´s e b.girl´s e mc´s fazendo a revolução que já não é mais tão silenciosa como muitos gostariam que fosse.
Passado mais de duas décadas, hoje ainda somos raízes e originais. O hip-hop brasileiro mantém seus pilares fundamentais: a contestação e a rebeldia, a capacidade de dar voz ao oprimido, de externar seus sentimentos de indignação através do 4 elementos perante o mundo. Adquirimos conhecimento e experiência sobre a dinâmica do movimento e aprimoramos suas características. Além de sermos artistas, somos algo mais importante dentro de nossas quebradas, pois utilizamos nossa arte para a transformação dessa sociedade injusta e desigual, para conclamar mais e mais guerreiros na nossa luta contra essa elite que se diz democrática e nos exclui permanentemente.
Brasil, julho de 2008, século XXI, Somos o Exército de Zumbi nos quilombos urbanos! Somos o elo da corrente que não quebrou! Somos a resistência nessa sociedade gananciosa e capitalista que dia a dia nos massacra, determinando o ponto máximo da escada, a partir dos seus carrões importados, apartamentos de luxo, roupas de marca, comidas caras e pensamentos elitizados e preconceituosos. São estes os mesmos que nos pedem um currículo com curso superior, profissionalizante, anos de experiência na área, especializações e, na maldade, ao mesmo tempo nos negam vaga na escola, e quando arrumamos a vaga nos ofertam um ensino de péssima qualidade para que sejamos mão de obra barata, trabalhadores miseráveis no mercado informal ou pior ainda, a parte que eles mais gostam, nos empurram para o crime. É assim que funciona o sistema capitalista, ele tem vários serviçais a sua disposição e o objetivo deles é transformar seres humanos em apenas cifrões que rendam juros.
Então guerreiros, se somos a base da pirâmide na estrutura social, somos a maioria. Temos que ser os “linhas de frente”, os soldados do exército dos pobres nesse campo de batalha! Vamos nos organizar, vamos honrar os nossos primeiros guerreiros que enfrentaram a polícia, que apanharam para dar voz à liberdade e a luta contra essa opressão. Tamu ligado que muitos e muitos dos nossos pagaram com a própria vida o custo desse sistema que está aí.
A Nação Hip Hop São Paulo Capital nasce hoje com essa tarefa. “Ainda não está tudo dominado como cantamos nos quatro cantos”. Vivemos hoje numa cidade proibida! Pela grandeza e diversidade dessa metrópole a ordem é ORGANIZAÇÃO e OCUPAÇÃO. Organização para ocupar todos os espaços que nos pertence: as associações de bairro, as escolas, as universidades, os sindicatos, a câmara municipal, a assembléia legislativa, os palcos iluminados do teatro municipal. Vamos ocupar o espaço que os nossos inimigos não querem que ocupemos. Essa é a palavra de ordem.
Militantes do Hip Hop: UNI-VOS!
Rafael do Prado Cavello (Solo) – Secretário de Organização da Nação Hip Hop Brasil – Estadual São Paulo.