Tragédias cotidianas

Neste último domingo, acordei lendo as notícias de que os atentados de 11 de setembro completavam 15 anos. O ataque às Torres Gêmeas em Nova York e a outras cidades dos Estados Unidos deixou quase 3 mil mortos e mais de 6 mil feridos, fazendo o mundo parar para acompanhar os desdobramentos de uma das maiores tragédias da humanidade.

Para recordar aquele dia e homenagear as vítimas, no local antes ocupado pelas duas torres foi criado um museu e memorial com retratos, biografias e objetos resgatados dos escombros. Mas o espaço causou polêmica por colocar à venda as tradicionais lembrancinhas para turistas, como camisetas, bonés, chaveiros, viaturas de brinquedo, broches, canecas, entre outros itens.

Saber da lojinha norte-americana me fez pensar… E se vendêssemos lembrancinhas das nossas próprias tragédias? E se vendêssemos porções da lama de Mariana, vindas diretamente do maior desastre ambiental de nossa história? Ou revólveres de plástico “em homenagem” à polícia que mais mata no mundo? Ou chaveiros feitos das grades do massacre do Carandiru e carteiras de trabalho para os milhões de profissionais que estão prestes a perder seus direitos? E se vendêssemos pedaços das correntes de ferro que por mais de 300 anos aprisionaram a população negra?

Um dos participantes das homenagens ao 11 de setembro disse: “como isso afeta uma pessoa, afeta a todas as outras”. A grande diferença é que nossas barbáries foram e são cotidianamente causadas por nós mesmos. Talvez se nossas tragédias também estivessem numa prateleira, seríamos mais capazes de assimilar as desigualdades de nossas rotinas e buscar uma solução.

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