Três vezes Joel Batista

Peço licença para ocupar a minha coluna de hoje com uma homenagem singela e sincera. A homenagem a um amigo de 30 anos e a um camarada de 35 anos de convivência praticamente continua. Me refiro ao companheiro Joel Batista, que veio a falecer nesta última quinta-feira as 02h da madrugada.

Recentemente se mostrava magoado e triste com algumas condutas que julgava incorreta, mas nunca jamais titubeou em defender o PCdoB e suas posições, mesmo quando não tinha mais nitidez no seu entendimento. Na dúvida, nunca duvidou.

Era o ano de 1985, ele ocupava a Secretaria sindical do Municipal de São Paulo. Eu dirigia a época o Comité da Mooca/Brás e estávamos em plena campanha para legalizar o Partido.

Ali junto com o Gregório, Creuza, Carioca, Djalma, Maria Agláis, Nanci, Zé da Meríl, Ivonete, Carlão, “Cara Suja”, Álvaro Cano e outros, constituímos algumas bases de recém filiados, nas fábricas e em algumas categorias. Eram vidreiros, têxteis, metalúrgicos, laticínios, condutores de veículos e papeleiros. Isso tinha deixou o Joel muito feliz e ele passou a frequentar muito a “nossa” região que se destacava neste quesito.

Lá pelas tantas surgiu uma oportunidade detectada por ele de encabeçarmos uma chapa de oposição a diretoria do Sindicato dos Vidreiros. Não teve dúvida, praticamente se mudou para lá e em pouco tempo tínhamos montado uma boa chapa. Antônio Fernandes, o Tonhão. Pernambucano bom de briga encabeçava a nossa turma. Mas tinha muita gente boa, como o Freitas de Mauá e Luiz Poeta, formamos uma bela chapa. Não tinha votos mas tinha consciência de classe, segundo o próprio vaticinara.

Ao marcar um evento de lançamento da chapa na Praia Grande, ali no antigo balneário do Sindicato dos Condutores de São Paulo, convidaram o Joel para falar sobre a Constituinte Livre e Soberana, bandeira do Partido e das forças democráticas do nosso país. Tarefa aceita, tudo certo, nos deslocamos para a atividade festiva. Já bêbado e empanturrado de churrasco e pão, foi acionado, para substituir Joel, que nos dera um cano homérico, no evento.

Fiquei, evidentemente, “puto” pôs não havia preparado nada e nem sequer cogitado tamanha ingratidão do “destino”. Não tendo jeito me pus a falar o que me vinha a cabeça, sob os olhares atônitos do Dorberto e do Gregório (que naquela época, aparecia aos domingos, nos eventos). Após a minha intervenção, aplaudida mais pela forma e solidariedade do que pelo conteúdo, passei a procurar o Joel, pelo telefone, de sua casa atendeu-me dizendo ter perdido a hora. Entre gargalhadas e conselhos me parabenizou dizendo que confiava em mim.

Em 1995, já estávamos no Comitê Central, para onde fomos eleitos juntos em 1988 e reeleitos em janeiro de 1992, também fazíamos parte do Secretariado do Comitê Estadual de SP, eu na organização e ele Coordenador da Comissão Municipal de Direção na capital paulista. Pois bem neste ano fomos a Brasília, sob os protestos da Gilda Almeida então sua esposa. A razão da crítica era porque nós iriamos até a Capital Federal de carro, uma Brasília “meq tref” que ele possuía. Quando ao chegarmos em nosso destino informamos sobre o incidente quase fatal, que ocorreu conosco no caminho, fomos fortemente admoestados, por ela e pelos outros. Só nos restou tomar cerveja no apartamento do então Deputado Federal Lindbergh Farias, enquanto sem sono, perguntávamo-nos: “e se nós não escapássemos?”

Dias antes de ser hospitalizado, me procurou com o semblante alegre. Afinal tinha realizado uma conversa com o Zé Reinaldo, responsável pelo Portal Vermelho, onde tinha acertado ser colunista do veículo. Se sentido útil divagou comigo sobre os assuntos e as possibilidades, que segundo ele, tal função lhe permitiria. Fiquei impressionado com sua alegria, mas ainda com os goles que ele sorvia, já que ele, aos meus olhos tinha parado de beber.

Jurando-me que era sem álcool, confidenciou um segredo, o tema de seu primeiro artigo. Como agora não faz mais sentido reter tal informação, digo que a sua intenção era escrever sobre como ele achava que os trabalhadores eram iludidos e de certa forma manipulado pela programação da TV.

Infelizmente não teve tempo de produzir tal texto.

Descanse em paz camarada.

A luta segue! 

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