Um “ato inaugural”

Salvo engano, a referência é feita numa crônica de Luis Fernando Veríssimo. O colonizador inglês impunha ao povo indiano, dentre inúmeros e odiosos constrangimentos, a proibição de que tocasse no sal que o país produzia. Gandhi, no intuito de marcar a pos

Guardadas as diferenças anos luz de distância, desde a quinta-feira passada, aniversário do Recife, ao lado de militantes e amigos distribuo nos cruzamentos de ruas e avenidas movimentadas um panfleto contendo endereços e telefones do gabinete e do escritório político, o site, o e-mail e um apelo à população para que acompanhe o meu mandato de vereador, verifique a prestação de contas, avalie criticamente a ação parlamentar, opine e faça sugestões.


 


 


Um ato simples e que ao mesmo tempo provoca nas pessoas uma reação de surpresa e de acatamento. De agradável surpresa, embora o bom senso sugira que o procedimento deveria ser rotineiro entre tantos os que exercem funções públicas conferidas pelo voto popular.


 


 


O acatamento atencioso e muitas vezes entusiasta reflete o interesse que a idéia desperta – a possibilidade de fiscalizar o desempenho do parlamentar e de influenciar de algum modo suas posições e iniciativas.


 


 


Trata-se, no caso, de um compromisso assumido na campanha – o de realizar um mandato transparente e submetido ao crivo da população da cidade, fornecendo a todo e qualquer cidadão ou cidadã, independentemente de partido político ou preferência eleitoral, canais de comunicação por onde possa interagir com o vereador.


 


 


“Nunca vi isso”, dizem alguns. “Todos deveriam proceder desse modo”, comentam outros. “Parabéns pela coragem”, há quem diga, como se nos dias que correm, em nosso país, o contato direto com a população em período não-eleitoral implicasse ousadia e risco.


 


 


E não faltam os que aproveitam a oportunidade para ali mesmo apontar problemas e sugerir soluções.


 


 


Que todos devam agir exatamente do mesmo modo é discutível. Provavelmente há outras maneiras de exercer o mandato parlamentar de modo transparente e democrático. Porém, sem nenhuma presunção, bem que a modesta porém sincera iniciativa poderia se converter em “ato inaugural” de uma nova conduta de muitos (pelas formas que julguem mais adequadas). Ganhariam todos: os detentores de cargos eletivos e os eleitores, que assim se ajudariam mutuamente no aprimoramento da prática democrática.

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