Um natal diverso

Então é Natal. Quando se celebra o nascimento de Jesus Cristo. Tempo de ressaltarmos a paz, a união e o amor ao próximo, que em sociedades capitalistas como a nossa, em geral, são traduzidos em presentes. Um anseio comum entre adultos e repassado para as crianças que também são levadas e seduzidas pela magia consumista que gratifica os bem-comportados e torna a necessidade do “ter” e “querer” ainda mais latentes.

É difícil não lembrar de minha infância neste período, quando ainda não diferenciava bem questões raciais ou sociais, porém podia perceber nos livros infantis que as princesas e rainhas eram todas brancas, enquanto a bruxa má estava sempre vestida de negro. Ou nos contos e lendas folclóricas que retratavam os personagens negros, como Saci-pererê, com uma perna só. Na televisão, as apresentadoras infantis eram sempre brancas, a mais famosa uma loira, assim como o casal de mocinhos das novelas e no principal seriado infantil da época, Tarzan, um homem branco imperava no negro continente africano. Se não bastasse, o grande protagonista do Natal, que traria o tão sonhado presente, era um simpático senhor branco de pele rosadinha e bochechas vermelhas.

Nessas quase cinco décadas poucas coisas mudaram. Datas como o Natal são importantes para refletirmos sobre os danos de identidade que causamos em nossas crianças quando não apresentamos a elas referências de diversidade étnica para se inspirar. Principalmente em um país que tem como base de sua formação, cultural e racial a contribuição negra e indígena.

Felizmente, algumas iniciativas têm colaborado para fortalecer a autoestima e o orgulho de crianças negras e indígenas, como a Lei 11.645/2008, que tornou obrigatória a inclusão da história e cultura afro-brasileira e indígena no currículo oficial da rede de ensino no país.

As referências apresentadas num período tão curto como os da primeira infância marcam para sempre a nossa identidade. Que neste Natal também possamos ter um olhar para dentro, contribuindo para a valorização étnica e cultural de nossas crianças e a formação delas como ser humano. 

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