Um tiro no pé: parcelas das elites vão sabotando a ascensão do Brasil

A cegueira estratégica de uma parcela importante das elites brasileiras – sobretudo daquela mais ligada a interesses estrangeiros, dominante na grande mídia – põe em risco a recente ascensão do país no cenário das nações, e pior, pode ter como efeito um encolhimento da presença brasileira no mundo, marca indelével do atual ciclo político iniciado em 2003.

A depender de sua continuidade e aprofundamento, as tendências ora dominantes que se estabelecem com a atual crise política e econômica, poderá ter efeitos catastróficos sobre a influência do país, em especial no seu entorno geoestratégico – área de interesse nacional vital. Refiro-me especialmente à América do Sul, Caribe e África.

A última noticia veio na manchete do jornal O Globo de ontem, domingo (19). Esta diz – como se tivesse descoberto o mais novo “escândalo” – que “Documentos mostram que Lula fez lobby no exterior”. A matéria revela telegramas do Itamaraty que relatam viagens do ex-presidente a Cuba e a Portugal, no qual Lula defende interesses brasileiros de projeção econômica e comercial nestes países, por meio de grandes empresas brasileiras de capital nacional.

Curiosa a linha de raciocínio, pois escândalo seria o oposto, se Lula não o fizesse. É obrigação de um presidente e também de um ex-presidente da República defender adensamento da projeção de seu país em países de sua área de influência, seja na esfera econômica e comercial, seja em outras esferas, como a política ou a cultural.

É curioso também esta mesma imprensa – e seus bonecos de ventrículos no parlamento – ignorarem a prática de outros mandatários e ex-mandatários de variados países do mundo com o mesmo propósito. Aliás, um ex-presidente norte-americano que promova as empresas de seu país no mundo é aplaudido internamente, como não poderia deixar de ser…

Para ficar apenas num exemplo recente, foi o que se viu no Brasil na recente concorrência do Programa FX2, de renovação da frota de caças da Força Aérea Brasileira (FAB): o ativismo de Obama na promoção da Boeing; de François Hollande no lobby pelo Rafale (Dessault) e do primeiro ministro sueco pela SAAB (Gripen), escolhido como vencedor. Algo de estranho nisso?

Muito pelo contrário.

Nesta semana, aliás, vimos um procurador oposicionista aninhado na Procuradoria da República de Brasília abrir uma investigação contra Lula exatamente por apoiar, junto a autoridades de outros países, pleitos de empresas brasileiras no exterior.

O alvo aqui é Lula, potencial sucessor de Dilma em 2018. Mas ao mirar em Lula com base nestas questões estratégicas, o consórcio oposicionista – midiático acerta em cheio no interesse nacional brasileiro.

Esta criminalização do adensamento da presença do Brasil no mundo, promovida na forma de campanha por setores neo-lacerdistas radicais das elites poderá assim ter efeitos altamente deletérios sobre a influência geopolítica e geoeconômica do país no mundo.

E vem mais por aí. Na Câmara dos Deputados anunciou-se a instalação da chamada “CPI do BNDES”. Um dos alvos é precisamente os contratos de expansão da presença econômica e comercial do Brasil no mundo, a despeito destes serem altamente vantajosos para o país, e não apenas na esfera geopolítica, mas também do ponto de vista da balança comercial, via exportação de serviços de engenharia, de alto valor agregado e altamente disputada entre as grandes nações.

Cabe perguntar: a quem interessa por no alvo a expansão da presença brasileira no mundo?

Num mundo marcado por intensa disputa por posições entre grandes Estados nacionais, a fragilização da presença internacional do Brasil serve às potências tradicionais que disputam conosco – e mais amplamente com os BRICS – a primazia e a hegemonia que resultará da atual transição no balanço de forças no mundo.

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