Uma bagunça portuguesa, com certeza…

A invasão do vestiário da Portuguesa por conselheiros e seguranças armados virou uma novela. Daquelas tão típicas quanto ridículas. Só no amadorismo de nosso futebol…

Após a derrota para o Vila Nova (GO) por 2 a 1 em pleno Canindé, acreditava-se que Renê Simões, treinador da Portuguesa, viria à entrevista coletiva dar as mais do que corriqueiras desculpas de um time em crise e cujo ascenso à Série A parecia ficar mais distante.

Mas não! Renê abriu o bico e denunciou a entrada de homens armados no vestiário que ameaçaram os atletas e ao próprio treinador. Denúncias depois corroboradas pelo meia-atacante Edno, o melhor jogador do time mas que não atravessava um bom momento, a principal vítima das ameaças.

Renê pediu demissão na manhã seguinte ao jogo. Edno disse que jogaria uma última partida fora de casa, depois daria adeus ao clube.

Tais ameaças partiram de um conselheiro do clube conhecido como Toninho da Divena, que tem livre trânsito no clube, e acha que tem o direito de cobrar resultados dentro do vestiário dos jogadores.

No dia seguinte foi a vez de Manuel da Lupa, presidente da Lusa, conceder entrevista coletiva e minimizar o fato, afirmando ser normal que surjam cobranças aos jogadores e à comissão técnica, mas classificou como “folclore” a intimidação com armas.

Aí já se percebe que a postura da direção da Lusa é de acobertar um tipo de prática que, ao que parece, é comum no Canindé.

O fato em si já é um absurdo! Um conselheiro, que nada tem a ver com o departamento de futebol, entra quando e onde quer no estádio, com seguranças armados, para ameaçar os jogadores e a comissão técnica. O presidente diz que não há nada demais, que Renê exagerou. Se enxerga, da Lupa!

A CBF faz que não vê, segue o discurso vazio do STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva) de interditar o Canindé. Mas isso é o mínimo que deve ser feito! Os dirigentes devem ser punidos. Gente assim, que infesta o nosso futebol, não pode mais permanecer à frente de clubes tradicionais como a Portuguesa. Nem em time pequeno isso cabe mais.

Mas este é o retrato do amadorismo que toma conta dos clubes brasileiros. Porque não é só a Lusa que passa por situações dessas. Talvez esta tenha sido a mais grave, mas não a única.

Só para citar casos recentes, em 2008 a torcida do Flamengo foi à Gávea atirar uma bomba no campo em meio ao treinamento. Neste ano a do Fluminense agrediu o jogador Diguinho e um segurança (sempre eles) atirou para o alto.

Uma semana depois do caso, o jogador César Prates, acompanhado de outros quatro jogadores, deu entrevista à imprensa negando as ameaças ao time e afirmando que o treinador Renê Simões não conhecia o conselheiro e sua prática comum de ir ao vestiário depois dos jogos.

Foi necessária uma semana para que ele desmentisse o ex-treinador e o meia Edno. Por acaso ele foi acometido por um lapso de memória que o fez esquecer do assunto por uma semana e lembrar toda a “verdade” depois?

O que querem agora? Um episódio do finado programa Você Decide para que o público escolha quem está falando realmente o que aconteceu? Não parece muito estranho que os jogadores que permaneceram no clube “lembrem-se” do que aconteceu naquele dia uma semana depois? Algo aí fede a bacalhau podre…

Infelizmente, dirigentes e torcedores profissionais mantêm relações que cada vez tornam o nosso futebol menor e mais desprestigiado. Que o digam os jogadores brasileiros no exterior, onde possuem estrutura para treinar, isolados de qualquer pressão desta ordem, e assim conseguem desenvolver seu futebol.

Tal organização, somada a fatores de ordem econômica, seduz nossos craques, a ponto de alguns sequer cogitarem voltar ao Brasil. Aqui, só quando bater saudade da família, dos amigos e do amadorismo.

Precisaremos retomar uma luta do início do século XX. Pela profissionalização do futebol brasileiro, hoje tão fraudulenta quanto a nossa democracia, ou nossa independência.

Ora, pois! Olhem lá, os portugueses “redescobrindo” o Brasil!

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