Visages, Villages (Imagens, Vilas)

Visages, Villages, de Agnès Varda e JMB, O famigerado, de Luci Alcântara

É claro que o título “Visages, Villages” foi feito para o público francês e não pata o público mundial, por isso não deveria ser simplesmente traduzido. Mas eu já vi por mais de uma vez esse filme, que é especialmente dessa grande cineasta francesa Agnès Varda. Tem direção compartida com o fotógrafo JR, que para nós fica parecendo Júnior, mas eles franceses pronunciam ‘jotaerre’. Na verdade, é um filme que tem uma grande presença – sem sua imagem aparecer em nenhum momento – do cineasta Jean-Luc Godard. A presença de JLG é estética principalmente, pois o fotógrafo JR procura se comportar como se fosse o próprio JLG a partir da vestimenta, mas também na forma como se comporta. Num momento, ele sai correndo com a cadeira de rodas de Agnès em plena cena godardiana.

O que me parece deve ser distinguido nesse “Visages, Villages” é que é uma obra de extrema simplicidade e assim se torna um filme divertido. Isto é, para distrair. Não tem motivação dramática. A estrutura cinematográfica em si é muito próxima daquela que conhecemos no cinema de Agnès Varda. E se o JR tem participação na direção, não podemos distinguir. Mas Agnès simplesmente não dirige. Deixa que a obra vá se criando naturalmente. E então temos ao mesmo tempo um filme sem drama, mas também um filme que nos mostra como a fotografia em si, como arte, tem uma grande presença na vida de uma comunidade.

Não precisa de atores, pois os personagens são as figuras reais que são colocadas para contracenar. E que são fotografadas ou participam de colocações em determinados momentos. Agnès tem um encontro marcado com Jean-Luc Godard, pois vai passar na sua residência que fica numa village francesa. Mas o encontro simplesmente se dá através de bilhetes públicos, pois Godard não a espera como combinado. Certo que é uma sequência muito específica do comportamento do cineasta. E Agnès quase que já tinha certeza de que JLG não estaria em casa.

Não me lembro do que escrevi quando vi esse filme em outra ocasião. Agora foi na plataforma Mubi. Nem procurei reler o texto anterior. O caso é que um trabalho de Agnès Varda sempre vai sugerir novas observações e uma delas é que dessa vez consegui mergulhar mais no comportamento pessoal da diretora, ouvindo melhor o seu francês bem tranquilo.

Olinda, 25. 04. 22

JMB, o famigerado

Documentário “JMB, o famigerado” | Foto: Divulgação

Luci Alcântara colocou alguns dos seus filmes no YouTube e entre eles o documentário “JMB, o famigerado”, sobre o professor Jomard Muniz de Britto, que eu ontem revi. Antes do filme tem duas entrevistas com Jomard, uma curta e outra longa. Eu revi tudo numa dose jomardiana de quase três horas de imagens, isso porque há um tanto de tempo que não nos vemos e eu realmente sinto falta.

Jomard teve uma importância grande em minha vida, desde os anos 50, quando nos conhecemos através do nosso gosto pelo cinema e pela filosofia também. Se eu tivesse capacidade, produziria um filme “Jomard & Celso”, contando algumas das nossas peripécias. Desde as conversas acontecidas no meu apartamento no Vieira da Cunha, quando eu vivia lá com minha primeira mulher Maria do Carmo, até peripécias em bares. A grande presença de Jomard para mim era principalmente pela minha timidez. Com a sua maneira de ser professoral, ele abria espaços e eu o seguia. Sempre. A partir do final dos anos 1990 é que nós nos afastamos.

O filme de Luci Alcântara me pareceu nessa visão agora repetitivo. Penso que na montagem ele deveria ser enxuto em meia hora. Ele tem a duração de 1h45min, mas deveria ficar com lh15min. Poderia haver um enxugamento de vinte minutos de imagens do próprio Jomard e mais 10 minutos dos entrevistados. Faltou segurança para Luci fazer esse enxugamento. Mas certamente o filme ganharia muito mais força, pois o espectador teria uma figura mais sem repetição e muita lenga-lenga também que é dita.

Não estou sendo contra o filme, apenas comentando o fato de que Jomard conseguiu dominar o filme e perturbar a análise da diretora. E assim ela preferiu manter muitos momentos desnecessários para não incomodar o entrevistado.

Olinda, 26. 04. 22

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