Você já viu um filme brasileiro essa semana?

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Com as salas de cinema fechadas, o que nos resta é buscar nossos conteúdos nas plataformas de streaming. Procurando, nos deparamos com algumas opções, mas rapidamente percebemos que são bem poucas diante do universo de títulos norte-americanos e de outros países. Isso, porque assim como o parque exibidor de cinema sempre colocou empecilhos para os nossos filmes, também há muitas dificuldades para que o produtor nacional consiga incluir sua obra nas plataformas de streaming. As negociações para licenciamento, remuneração, exclusividade, etc. são grandes entraves, principalmente para as produtores pequenas e independentes.

Vamos fazer um rápido e pequeno levantamento. Para isso, tomemos como referência o período 2005 (a retomada do cinema nacional) até 2019. Nestes 15 anos, foram lançados no país cerca de 2 mil filmes.

Na programação da Netflix, campeã de assinantes no Brasil, um breve levantamento considerando apenas os filmes de longa metragem, mostrou que há disponível 42 filmes nacionais. No Teleciplay, 62 títulos e na Prime Vídeo (Amazon) há pouco mais de 100 filmes entre documentários e de ficção.

O Looke — um sistema em que, além da assinatura, o usuário também paga para alugar o filme — apresenta uma melhor diversidade com cerca de 300 títulos de ficção. Além disso, tem um canal em parceria com SPCine. Talvez a melhor coisa de todas as plataformas. Nele tem espaço para curtas nacionais, independentes e uma seleção de filmes que você não encontrará em nenhum lugar. Existem outras plataformas, mas seguem o mesmo padrão das demais. 

Além disso, muitos desses conteúdos se repetem. É possível encontrar um grande sucesso da Globo Filmes em todos eles, mas o ótimo filme “Desmundo”, de Alain Fresnot, não está em nenhum deles. Isso para citar apenas um filme.

Uma outra alternativa é procurar filmes no Youtube. Porém, em geral, a qualidade é trágica. Uma resolução precária que acaba com a obra, deixando muito a desejar.

Ou seja, a ausência de diversidade e pluralidade de títulos nacionais é quase total e mostra que, assim como precisamos de cotas para termos os filmes nacionais exibidos na telona, também temos que construir políticas e articulação para conseguir incluir nossa produção nessas plataformas, já que não há uma lei ou política pública que as obrigue a disponibilizar conteúdo nacional. 

O Brasil conseguiu um importante avanço na proteção e promoção do conteúdo nacional com a lei 12.485/2011, que estabeleceu regras e obrigações para carregamento obrigatório de canais e exibição de conteúdo nacional e independente nos canais de TV paga. Essa medida impulsionou a nossa produção, gerando recursos próprios e aquecendo o mercado do audiovisual. Infelizmente, hoje, o governo brasileiro e a indústria norteamericana querem rever e acabar com essa lei.

Seja em qual janela for – na telona, na tevê aberta, fechada ou no streaming – ainda somos estrangeiros no nosso próprio território, como dizia Paulo Emilio Salles Gomes. Ainda imploramos pela cota de tela no cinema e, nos streamings, precisamos baixar a cabeça, pedir por favor e dizer obrigado, senhor.

Até quando?

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